Eficácia do selénio na quimioterapia e radioterapia por cancro do colo do útero
O selénio é um oligoelemento essencial que tem influência na incidência e no aparecimento de vários tipos de cancro, incluindo o cancro do colo do útero, que é uma das formas de cancro mais frequentes. O cancro do colo do útero, muitas vezes, é tratado com terapêutica combinada de radioterapia e quimioterapia, e é sabido que os efeitos secundários afectam a medula óssea e a produção de plaquetas e células do sangue. Contudo, tudo indica que a suplementação com levedura de selénio neutraliza estes efeitos adversos sem afectar o tratamento, segundo um estudo publicado em Frontiers in Nutrition.
O cancro do colo do útero é um dos cancros mais disseminados, com 640 000 novos casos e 342 000 mortes em todo o mundo, só em 2020. As terapêuticas usadas no tratamento desta forma de cancro estão associadas a efeitos secundários apreciáveis, razão pela qual os cientistas responsáveis pelo novo estudo quiseram verificar se a suplementação com levedura de selénio teria efeito atenuante.
O estudo foi realizado em 104 doentes com cancro do colo do útero de estádio IIB, o que significa que o cancro se disseminou para os tecidos circundantes. As doentes foram divididas em dois grupos, sendo que um grupo recebeu 100 microgramas de levedura de selénio duas vezes por dia, durante cinco semanas, e o outro grupo recebeu placebo correspondente. As doentes dos dois grupos receberam terapêutica de primeira linha, o que incluía cinco sessões semanais de radioterapia interna e externa. As doentes também fizeram quimioterapia ao mesmo tempo que fizeram radioterapia. Durante o tratamento, os cientistas avaliaram a mielossupressão, em que há queda de actividade da medula óssea, o que reduz a produção de plaquetas e células do sangue. Também analisaram as funções hepática e renal, e fizeram o doseamento sérico do selénio, antes, durante e após a terapêutica, nos dois grupos.
Antes da terapêutica, o nível sérico do selénio era sensivelmente igual nos dois grupos. Contudo, depois de iniciada a terapêutica, observou-se uma grande diferença entre os dois grupos. Nos participantes que receberam suplemento de selénio, os níveis de selénio aumentaram significativamente, ao passo que, no grupo que não fez suplementação, caíram a pique. Além disso, a ocorrência de mielossupressão e trombocitopenia (diminuição do número de plaquetas), causadas pela radioterapia e quimioterapia, foi menor no grupo que recebeu suplemento de selénio comparativamente ao grupo placebo. Não se observaram diferenças entre os dois grupos no que toca a lesão hepática e renal.
Baseados nas observações, os cientistas concluíram que a suplementação com levedura de selénio em doentes com cancro do colo do útero aumenta significativamente os níveis séricos de selénio, ao passo que diminui os danos hematológicos causados por quimioterapia e radioterapia. Dado que a levedura de selénio não afecta a terapêutica de primeira linha, os cientistas consideram-na uma estratégia promissora na protecção contra os efeitos secundários da quimioterapia e da radioterapia.
Que influência tem a levedura de selénio no cancro relativamente a quimioterapia e radioterapia?
O selénio é necessário para formar diversas selenoproteínas que são primordiais para vários processos metabólicos e ajudar a reforçar a protecção antioxidante do organismo. O solo agrícola de vastas regiões da Europa e de muitos outros locais do mundo é pobre em selénio, e isso pode aumentar o risco de cancro.
Os autores do estudo mencionam investigação epidemiológica que mostra que o sal enriquecido com selénio pode reduzir a incidência de cancro hepático primário (carcinoma hepatocelular) em 35 por cento.
Outro estudo, o estudo Nutritional Prevention of Cancer (NPC), foi o primeiro estudo controlado com placebo e duplamente cego a investigar se a levedura de selénio podia reduzir o risco de cancro. O estudo mostrou que a suplementação diária com 200 microgramas de levedura de selénio diminuiu a incidência de cancro em 37 por cento e reduziu a mortalidade por cancro em 50 por cento. O selénio também pode diminuir o risco de cancro do colo do útero, e o estudo indica que a levedura de selénio com diversas variedades de selénio orgânico é a mais eficaz.
A capacidade do selénio de prevenir o cancro resulta de diversos mecanismos relacionados com renovação energética, defesas imunitárias, expressão de genes, apoptose (morte celular programada) e processos anti-inflamatórios. O selénio também favorece os antioxidantes GPX, fundamentais, que protegem as células contra o stress oxidativo causado pelos radicais livres.
É sabido que a radioterapia sujeita o organismo a grande carga de radicais livres. Esta é necessária para matar as células cancerígenas, mas ao mesmo tempo provoca stress oxidativo, que pode ser nocivo para as células saudáveis, incluindo as células da medula óssea. Verifica-se divisão celular considerável na medula óssea, o que a torna cada vez mais vulnerável aos efeitos secundários causados pela quimioterapia.
Referências bibliográficas:
Mei Yang et al. Effects of selenium supplementation on concurrent chemoradiotherapy in patients with cervical cancer. A Randomized, double-blind, placebo-parallel controlled phase II clinical trial. Frontiers 2023