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O selénio e o cálcio protegem contra o cancro colo-rectal

 O selénio e o cálcio protegem contra o cancro colo-rectal O cancro colo-rectal é um dos tipos de cancro mais comuns. Sabe-se que a alimentação é de extrema importância, mas conhecem-se pouco os minerais e respectivas interacções e efeito preventivo. Estudos anteriores mostraram que o cálcio e o selénio têm funções protectoras. Também parece que ter mais selénio no sangue pode melhorar o efeito do cálcio. Isto mesmo foi demonstrado num estudo polaco recente, publicado na BMC Nutrition. Os cientistas chamam a atenção para o faco de haver insuficiência de selénio generalizada na Europa e de, eventualmente, ser necessária suplementação.

Cancro colo-rectal é a designação de conjunto de cancro do cólon, recto e apêndice. Embora as autoridades de saúde tenham adoptado diversos tipos de exames de rastreio e vários tratamentos, o cancro colo-rectal está à cabeça da mortalidade por cancro. Pensa-se que a alimentação e o estilo de vida representam cerca de 70 por cento dos casos. O risco aumenta com o consumo de carne processada, como bacon, enchidos e carnes frias curadas, fumadas, ou com conservantes, como nitritos, adicionados para intensificar o sabor ou aumentar o período de armazenamento.
Falta de exercício, excesso de peso, consumo excessivo de álcool e envelhecimento são alguns dos outros factores que aumentam o risco. A falta de nutrientes também tem influência, e a ciência está especialmente concentrada no selénio e no cálcio.

  • Todos os anos, 5000 dinamarqueses são diagnosticados com cancro colo-rectal
  • A maior parte dos doentes tem mais de 50 anos de idade, e o risco de morte pela doença aumenta com a idade
  • A alimentação e o estilo de vida têm um papel crucial

Mecanismos anticancerígenos do selénio

O selénio é um oligoelemento que favorece uma série de selenoproteínas e respectivas funções essenciais. O selénio está presente em miúdos, carne, ovos, peixe e marisco. O teor de selénio no trigo e noutros cereais é determinado pelo teor de selénio no solo. Na Europa e em muitas outras regiões do mundo, os terrenos de cultivo são pobres em selénio, razão pela qual a insuficiência de selénio é tão generalizada. Os cientistas estão conscientes deste problema, ao qual têm prestado atenção, visto que o selénio tem os seguintes mecanismos anticancerígenos:

  • Afecta as actividades genéticas, incluindo Bcl-2
  • Bcl-2 regula a morte celular programada (apoptose), um mecanismo que ajuda na autodestruição de células anómalas e deterioradas
  • Favorece antioxidantes potentes como GPX, que neutraliza os radicais livres potencialmente nocivos
  • Reforça as defesas imunitárias
  • Reduz a interleucina-2 e processos inflamatórios nocivos
  • Ajuda a activar as hormonas tiroideias
  • Neutraliza a acção nociva das toxinas ambientais como o mercúrio

Vários estudos e metanálises mostraram que o selénio protege contra o cancro colo-rectal. Em 1996, o investigador oncológico americano, Larry C. Clark, comprovou que a suplementação diária com 200 microgramas de levedura de selénio faz baixar o risco de cancro colo-rectal em quase 60 por cento.
Em 2017, cientistas da University College Dublin realizaram um grande estudo do selénio, em que analisaram dados do chamado estudo EPIC. Neste estudo, cerca de meio milhão de pessoas tinha fornecido amostras de sangue e informações sobre a sua alimentação e estilo de vida. Os cientistas verificaram que maior concentração de selénio no sangue estava associada a menor risco de desenvolver cancro colo-rectal. O estudo sugere que, para a maioria dos europeus, pode ser importante maior aporte de selénio porque o aporte de selénio do europeu médio é inferior ao nível ideal.
Há, contudo, resultados contraditórios, visto que há estudos que não conseguiram demonstrar relação estatisticamente significativa entre o aporte de selénio e o risco de desenvolver cancro colo-rectal. Segundo os autores do novo estudo polaco, tal pode dever-se a diversos factores alimentares e de estilo de vida e a métodos analíticos diferentes.
Daí que os cientistas polacos quisessem fazer uma análise mais profunda do aporte de cálcio para ver se este tem alguma influência no efeito do selénio. Ao que parece, o cálcio alimentar intervém na protecção do epitélio intestinal, que constitui uma barreira protectora do intestino, com muitas funções fisiológicas. Mais precisamente, o cálcio protege as células epiteliais através do efeito que tem na síntese de cálcio-fosfato biliar. Dado o selénio ter outros mecanismos anticancerígenos que estão relacionados com protecção antioxidante, defesas imunitárias e apoptose, os cientistas quiseram estudá-los aprofundadamente relativamente à capacidade de prevenirem o cancro colo-rectal.

Níveis ideais de selénio conferem o maior nível de protecção

Os cientistas analisaram a alimentação de 683 doentes diagnosticados com cancro colo-rectal e 759 doentes internados por outras doenças. Constataram haver uma relação inversa entre aporte de selénio e risco de cancro colo-rectal. O risco de cancro diminuiu em 30 por cento em doentes que receberam 60-80 microgramas diários de selénio. Em doentes que receberam mais de 80 microgramas diários, o risco de cancro diminuiu em 60 por cento.
Os cientistas observaram igualmente que o baixo aporte de cálcio diminuía a eficácia do selénio e respectivo efeito anticancerígeno. Por outro lado, maior aporte de cálcio não pareceu ter grande impacto no selénio e na sua capacidade de prevenir o cancro.
Daí que os investigadores proponham o aumento do aporte de selénio e cálcio entre as pessoas que não obtêm estes dois minerais em quantidade suficiente.
Este estudo corrobora estudos anteriores, e tudo indica que o efeito protector do selénio no cancro colo-rectal atinge o máximo em doses de cerca de 81-145 microgramas diários. Não há evidência de que a ingestão de quantidade superior aumente o nível de protecção. A EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar) fixou a dose máxima de segurança do selénio em 300 microgramas diários. O estudo polaco está publicado na BMC Nutrition.

Como compensar o baixo aporte de selénio e a má qualidade do suplemento

A dose de referência de selénio, na Dinamarca, é de cerca de 55 microgramas diários. Contudo, segundo o novo estudo, esta não é suficiente para conferir protecção contra o cancro colo-rectal. Na verdade, duplicar ou triplicar o aporte de selénio pode ajudar a reduzir o risco de cancro colo-rectal e outras formas de cancro.
A melhor fonte de selénio para suplementação é a levedura de selénio que contém uma diversidade de tipos de selénio orgânico, em tudo semelhante ao que se obtém numa alimentação equilibrada, com diversas fontes de selénio. Curiosamente, o estudo SELECT, em que os participantes receberam apenas um tipo de selénio (selenometionina), não conseguiu demonstrar efeito protector no cancro. É por isso que o selénio usado em investigação é primordial.

Referências bibliográficas

Malgorzata Augustyniak & Aleksander Galas. Calcium intake may explain the reduction of colorectal cancer odds by dietary selenium – a case control-study in Poland. BMC Nutrition. 2022

Clark LC et al: Effects of Selenium Supplementation for Cancer Prevention in Patients with Carcinoma of the Skin. JAMA: 1997.
Klein EA et al. Vitamin E and the risk of prostate cancer: The Selenium and Vitamin E Cancer Prevention Trial (SELECT). JAMA 2011.

Lutz Shomburg. Dietary Selenium and Human Health. Nutrients 2017



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