A intervenção precoce com selénio é benéfica para os doentes com traumatismo
Tanto o traumatismo físico como doenças graves estão associados a inflamação e stress oxidativo, situação em que os radicais livres podem provocar lesão potencialmente fatal de células e tecidos. Estima-se que uma em dez mortes seja provocada por traumatismo. Investigação recente sugere que a intervenção precoce com selénio pode encurtar o internamento hospitalar, incluindo nos cuidados intensivos, e diminuir a mortalidade total. Isto mesmo foi demonstrado num estudo publicado em Frontiers in Nutrition, em que os investigadores analisaram atentamente as excepcionais propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias do selénio.
O traumatismo físico que requer cuidados urgentes e intensivos inclui lesões, coágulos sanguíneos, AVC, queimaduras graves e infecções graves. Sépsis, síndrome de dificuldade respiratória aguda (SDRA), e outros tipos de falência orgânica, são responsáveis por uma em dez mortes.
Quando a morte sobrevém no espaço de dias ou semanas do traumatismo, está associada a processos inflamatórios desregulados. Em circunstâncias normais, a inflamação é a resposta natural do organismo a lesão celular e infecção, processo em que se produzem radicais livres. Contudo, o organismo deve poder sempre controlar e interromper estes processos inflamatórios após um curto espaço de tempo, a fim de evitar stress oxidativo e lesão celular causados por radicais livres em número excessivo. A presença de toxinas no sangue e casos complicados de gripe e COVID-19 estão associados a hiperinflamação, que pode tornar-se potencialmente fatal.
É sabido que os micronutrientes como o selénio contribuem para as defesas imunitárias e protecção antioxidante do organismo, e que os níveis séricos do selénio associados a doença grave são baixos. Daí os cientistas responsáveis pelo novo estudo pretenderem apurar se a intervenção rápida com selénio pode ser benéfica para doentes com traumatismo.
Para o estudo foram seleccionados 20 doentes com traumatismo, que tinham acabado de ser internados nos cuidados intensivos. Os participantes, ou os respectivos parentes mais próximos, deram consentimento, por escrito, à utilização da terapêutica com selénio. Foram critérios de exclusão morte no Serviço de Urgência, transferências entre hospitais, ou ter menos de 18 anos.
Assim que os doentes seleccionados foram internados nos cuidados intensivos, receberam, por via intravenosa, 100 microgramas de selénio três vezes por dia durante cinco dias, em associação com outros tipos de terapêutica aguda. Em seguida, os cientistas analisaram a sobrevida, internamento no hospital/unidade de cuidados intensivos, alterações séricas, tempo ligado ao ventilador, e função respiratória, do doente. Quando comparado com o grupo de controlo, o grupo que recebeu selénio apresentava as seguintes vantagens:
- Internamento hospitalar significativamente mais curto
- Significativamente menos tempo de internamento nos cuidados intensivos
- Melhoria dos granulócitos neutrófilos (glóbulos brancos), função hepática e PCR (proteína C reactiva). A PCR é um marcador de inflamação
- Melhor regulação dos processos inflamatórios pelo organismo
- Recuperação mais rápida de lesões orgânicas, especialmente do fígado
- Melhoria da taxa de sobrevida
O selénio tem várias funções essenciais no traumatismo e outras doenças graves
O selénio é um oligoelemento que intervém em 25-30 proteínas seleniodependentes, incluindo várias enzimas e antioxidantes. A razão por que a concentração sérica de selénio é extremamente baixa nas primeiras 6-12 horas a seguir a um traumatismo reside no facto de o selénio ser incorporado nos glóbulos brancos. Os investigadores referem que o selénio ajuda a regular os processos inflamatórios por diversos mecanismos. O selénio constitui igualmente um antioxidante crucial (GPX) que protege células e tecidos contra o stress oxidativo.
É sabido que o traumatismo e doenças graves, como presença de toxinas no sangue, estão associados a stress oxidativo e síndrome de resposta inflamatória sistémica (SIRS) que podem provocar lesão das células endoteliais dos vasos sanguíneos e pulmões, SDRA (síndrome de dificuldade respiratória aguda) e falência orgânica. Inúmeros estudos demonstraram que, durante a fase inicial de um traumatismo, desenvolvem-se processos inflamatórios sistémicos. É, por isso, fundamental que os processos inflamatórios decorram sem dificuldades e sejam interrompidos durante a segunda fase, para evitar lesão potencialmente fatal.
Também é sabido que a inflamação crónica indolente cria condições para várias doenças crónicas, como aterosclerose, cancro, doenças auto-imunes e perturbações neurológicas. Tudo indica que a falta de selénio e outros antioxidantes, geralmente, agrava o prognóstico.
O novo estudo de doentes com traumatismo corrobora estudos anteriores. Os cientistas dão como exemplo seis estudos controlados e aleatórios, publicados anteriormente, em que a administração de selénio (200-500 microgramas diários) a doentes críticos foi benéfica. Não se observaram efeitos adversos.
Geralmente, é aconselhável a ingestão diária de selénio em quantidade suficiente, a fim de garantir a saturação de selénio adequada de todas as selenoproteínas essenciais.
- O selénio tem um papel crucial durante a fase inflamatória inicial
- O selénio também tem um papel fundamental durante a fase seguinte, em que os processos inflamatórios devem ser interrompidos
- O selénio é igualmente crucial para os antioxidantes GPX fundamentais
- A falta de selénio aumenta o risco de stress oxidativo e deixa a pessoa com história de traumatismo ou doença grave mais vulnerável
Fontes:
Yu-Cheng Chiu et al. The influence of early selenium supplementation on trauma patients: A propensity-matched analysis. Frontiers in Nutrition. 08 December 2022
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