O papel ignorado do selénio na fertilidade feminina e masculina
Não tem sido dada atenção ao papel do selénio na qualidade do esperma e na gravidez saudável. Uma equipa de cientistas da Roménia fez uma análise aprofundada dos níveis sanguíneos de diversos antioxidantes que contêm selénio e constatou que há uma clara correlação entre níveis baixos e má qualidade do esperma. Os cientistas também esclarecem que a falta de selénio aumenta o risco de complicações relacionadas com a gravidez, aborto espontâneo e parto pré-termo. Como a insuficiência de selénio e a infertilidade são problemas comuns, valerá a pena ponderar a toma de suplementação com selénio. Durante décadas, os agricultores dinamarqueses adicionaram selénio à forragem dos animais no sentido de melhorar a fertilidade e a saúde em geral dos animais.
O oligoelemento selénio favorece cerca de 30 proteínas que contêm selénio e que são importantes para funções como renovação energética, síntese de ADN e metabolismo. As selenoproteínas, como GPX (glutationa peroxidase), TR (tioredoxina redutases) e selenoproteínas H, P e S, têm um papel importante na maturação e protecção dos óvulos, no desenvolvimento do feto e em garantir que o parto tem lugar a seu tempo. As selenoproteínas têm uma importância estrutural durante a gravidez e intervêm no desenvolvimento do cérebro do feto. O antioxidante GPX também protege a placenta e o feto contra o stress oxidativo, que é um desequilíbrio entre os radicais livres prejudiciais e os antioxidantes protectores. No ser humano, os radicais livres são um subproduto normal da renovação energética do organismo, mas a carga de radicais livres aumenta muito em consequência de factores como stress, infecções, tabagismo e intoxicação.
É sabido que a falta de selénio aumenta o risco de infertilidade e de uma série complicações, como inflamação crónica do útero ou da mama, quistos do ovário, lesão do coração e músculos do feto, aborto espontâneo, aumento do risco de infecções na mãe ou no feto, e nado-morto.
No que diz respeito à fertilidade do homem, as selenoproteínas são importantes para os flagelos e o seu movimento de chicote que permite ao espermatozóide ter grande mobilidade. No homem, a falta de selénio não só afecta a mobilidade do espermatozóide, mas também a qualidade do esperma. Os espermatozóides são extremamente vulneráveis ao stress oxidativo porque, contrariamente a outros tipos de células, os espermatozóides não conseguem reparar os danos sofridos pelo seu próprio ADN. O que pode acontecer é um fenómeno chamado fragmentação do ADN. Ainda que o espermatozóide consiga chegar ao óvulo e fecundá-lo, o óvulo não consegue desenvolver-se normalmente e é rejeitado pouco depois. O selénio é importante para a produção de espermatozóides normais que podem aumentar a probabilidade de concepção bem sucedida e de desenvolvimento intra-uterino normal do óvulo.
Todos os espermatozóides contêm selénio. Na verdade, é nas glândulas sexuais e no esperma que se encontram as concentrações de selénio mais elevadas do organismo |
O novo estudo sugere a utilização de suplementos de selénio para baixa fertilidade
São muitos os estudos que, no passado, salientaram o papel do selénio na fertilidade. Foi por isso que os cientistas romenos admitiram a hipótese de a baixa concentração de selénio, especialmente em relação à actividade da GPX, poder diminuir a fertilidade em ambos os sexos. Por isso, analisaram com mais atenção as concentrações de selénio em 1.264 pessoas, aparentemente saudáveis, com idades compreendidas entre os 16 e os 89 anos, da parte ocidental da Roménia. O estudo mostrou que a baixa concentração de selénio observou-se, principalmente, entre as pessoas jovens, em que até próximo de 50 por cento não tinham actividade GPX adequada. Estes resultados corroboram a taxa de fertilidade decrescente que se observa na Roménia nos últimos anos. Os cientistas sugerem, por isso, que o foco seja procurar que as novas gerações obtenham selénio suficiente. Uma amostra de sangue pode ajudar a determinar a concentração de selénio da pessoa e permitir compensar eventuais insuficiências que possam contribuir para os problemas de fertilidade.
Fontes de selénio e suplementos
O selénio encontra-se no peixe, marisco, vísceras (miúdos), ovos, lacticínios e castanha-do-pará. O solo agrícola na Europa é pobre em selénio. Isto reflecte-se em toda a cadeia alimentar e contribui para o problema de insuficiência generalizada. O aporte de selénio recomendado – a chamada dose de referência – é de 50-70 microgramas por dia. Os estudos têm mostrado que esta quantidade é demasiado baixa para permitir a saturação adequada de uma selenoproteína específica, a selenoproteína P, que é usada como marcador da concentração de selénio no organismo. Para saturar devidamente esta selenoproteína, são precisos cerca de 100 microgramas diários de selénio. A melhor fonte de selénio para suplementação é a levedura de selénio orgânico com diversas variedades de selénio, que proporciona vários tipos de selénio natural, exactamente como o que se obtém quando se faz uma alimentação equilibrada que inclua diversos alimentos que contém selénio
Nota: Há décadas que se dá selénio suplementar ao gado e a animais de estimação
O selénio também é primordial para a fertilidade e saúde em geral dos animais. Na verdade, normalmente, adiciona-se selénio à comida de cão e gato. Há décadas que os suinicultores e criadores de gado dão selénio suplementar aos seus animais, simplesmente porque perceberam que a insuficiência de selénio pode provocar problemas de fertilidade e aumentar o risco de bezerros nados-mortos ou fracos. Tudo se resume a bom senso e pensamento prático.
Referências bibliográficas
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