Os suplementos de selénio são benéficos para a saúde do cérebro e na doença de Alzheimer
O cérebro é especialmente vulnerável a stress oxidativo e inflamação local, o que pode criar condições para doença de Alzheimer e outras doenças neurológicas. Há, contudo, determinados antioxidantes que contêm selénio capazes de proteger os neurónios do cérebro contra lesão. Além disso, os suplementos de selénio podem melhorar o desempenho cognitivo em doentes com história de perda cognitiva moderada e doença de Alzheimer, segundo uma metanálise publicada na Nutrients.
Para esta metanálise, os cientistas colheram dados de quatro bases de dados electrónicas, acabando por seleccionar seis estudos clínicos, publicados antes de Dezembro de 2020. A maior parte dos estudos era da Europa e dos Estados Unidos. Sessenta por cento dos participantes nos estudos tinham história de doença de Alzheimer, enquanto 40 por cento tinham perda cognitiva moderada. No âmbito destes estudos, os participantes receberam suplementos de selénio durante 12-24 semanas.
A metanálise mostrou que a suplementação com selénio aumentou a actividade de um antioxidante que contém selénio, chamado glutationa peroxidase (GPX). Além disso, o selénio melhorou o desempenho mental de doentes com perda cognitiva moderada e doença de Alzheimer, quando avaliados. Os cientistas admitem que os suplementos de selénio são uma alternativa viável para doentes com estes problemas. Também parece que o aporte suficiente de selénio ajuda a prevenir a perda cognitiva moderada e a doença de Alzheimer.
- Os radicais livres são subprodutos naturais da renovação energética celular
- A carga de radicais livres aumenta com envelhecimento, intoxicação, tabagismo, excesso de peso, inflamação e doença crónica
- O stress oxidativo é um desequilíbrio entre radicais livres nocivos e antioxidantes protectores
- No stress oxidativo, os radicais livres são em maior número que os antioxidantes e atacam e destroem os neurónios e outros tipos de células
Porque é que o cérebro precisa de selénio?
O selénio é um oligoelemento essencial que favorece cerca de 25 proteínas que contêm selénio. Várias destas chamadas selenoproteínas têm funções antioxidantes, como o extraordinário antioxidante GPX que protege as células cerebrais contra agressão dos radicais livres e stress oxidativo.
O cérebro representa perto de 20 por cento do consumo de oxigénio total do organismo e, porque alberga grandes quantidades de ácidos gordos polinsaturados, está sujeito a stress oxidativo. Os radicais livres são especialmente nocivos quando atacam os ácidos gordos polinsaturados nas membranas celulares e dão início a reacções em cadeia que se propagam a outras células. Este fenómeno é conhecido por peroxidação lipídica. Se os ataques dos radicais livres forem excessivos, podem provocar lesão do ADN celular e de várias funções enzimáticas e, assim, provocar funcionamento deficiente ou morte das células. Os antioxidantes que contêm selénio protegem igualmente contra inflamação cerebral crónica. Esta inflamação, embora não se sinta, está implicada em inúmeras perturbações neurológicas.
Relação entre perda cognitiva moderada, doença de Alzheimer e carência de selénio
Por todo o mundo, há cada vez mais séniores com história de perda cognitiva moderada, que pode ser a fase inicial da doença de Alzheimer, a causa principal de demência. Os investigadores constataram que as doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer, caracterizam-se por stress oxidativo. Observou-se igualmente que as pessoas com doença de Alzheimer acumulam um tipo de proteínas nocivas no cérebro, conhecidas por placas beta-amilóides. Isto desencadeia inflamação, morte celular e vários sintomas como perda de memória, mau sentido de orientação e perda de outras capacidades. Também se observou que os doentes de Alzheimer têm concentrações de selénio no sangue e nos glóbulos vermelhos significativamente inferiores às de pessoas saudáveis. Os cientistas responsáveis pela nova metanálise afirmam que, pela primeira vez, foi demonstrado que os suplementos de selénio são benéficos para doentes com perda cognitiva moderada e doença de Alzheimer.
Ao que tudo indica, o selénio pode prevenir a formação de placas beta-amilóides e a actividade de radicais livres que contêm ferro, no cérebro. Segundo os investigadores, os efeitos positivos resultam de aumento da actividade dos antioxidantes GPX que protegem os neurónios cerebrais.
O selénio melhora as capacidades cognitivas
São vários os testes, como o Teste Minimental (MMSE), usados para avaliar a progressão da doença de Alzheimer no que toca a linguagem, memória, sentido de orientação, cálculo, e capacidades de escrita e desenho. Quanto mais alta a pontuação, melhor são as capacidades cognitivas. Segundo a nova metanálise, a suplementação com selénio melhorou significativamente as capacidades cognitivas dos doentes avaliadas no Teste Minimental. Outro estudo, publicado na Cell Metabolism, mostra que o selénio tem um papel crucial na formação de novos neurónios.
Como aumentar os níveis de selénio no sangue?
A dose diária recomendada de selénio, na Europa e nos Estados Unidos, é de cerca de 55 microgramas. Porém, os estudos sugerem que são precisos cerca de 100 microgramas diários para saturar devidamente a selenoproteína P, que é utilizada como medida da concentração de selénio no organismo. Segundo a presente metanálise, é igualmente importante optimizar os níveis de GPX no sangue e nos glóbulos vermelhos. De qualquer modo, as concentrações de selénio no sangue, idealmente, devem situar-se entre os 70-130 microgramas.
O aporte de selénio diverge bastante dependendo da geografia e das condições do solo. Dados de Europa, China, Ásia, Médio Oriente e África indicam que o aporte de selénio é muito baixo. Contudo, também é importante não tomar selénio em doses excessivas. Segundo a OMS, a dose máxima tolerada é de 400 microgramas por dia.
Referências bibliográficas:
Meire Ellen Pereira et al. Effects of Selenium Supplementation in Patients with Mild Cognitive Impairment or Alzheimer’s Disease: A Systematic Review and Meta-Analysis. Nutrients 2022
Odette Leiter et al. Selenium mediates exercise-induced adult neurogenesis and reverses learning deficits induced by hippocampal injury and aging. Cell Metabolism. February 3, 2022
Jing Huang et al. Selenium Status and Its Antioxidant Role in metabolic Diseases. Oxidative Medicine and Cellular Longevity. 2022
Malene Outzen el at. The Effect on Selenium Concentration of a Randomized Intervention With Fish and Mussels in a Population with Relatively Low Habitual Dietary Selenium Intake. Nutrients 2015
DICA! Veja também os artigos relacionados