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O selénio reforça a formação de novas células cerebrais

O selénio reforça a formação de novas células cerebraisÉ do conhecimento geral que a actividade física reforça a capacidade do cérebro de formar novas células cerebrais – ou neurónios. Ainda assim, os mecanismos subjacentes têm sido um mistério para a ciência. Contudo, uma equipa de cientistas australianos descobriu recentemente que, durante o exercício físico, os ratos produziam uma proteína que contém selénio e que ajuda o cérebro a sintetizar novas células cerebrais. Os cientistas consideram este estudo extraordinário, e admite-se que a terapêutica com selénio possa ser usada, no futuro, para prevenir e tratar o declínio cognitivo em pessoas que não podem fazer exercício físico ou nas que são susceptíveis de ter défice de selénio. Isto é particularmente relevante nos doentes de Alzheimer e em pessoas que sofreram AVC. Acresce que, na Europa, pode ser bastante difícil obter selénio em quantidade suficiente na alimentação, ainda que equilibrada.

A enorme rede neuronal e a capacidade do cérebro humano de tratar a informação é condição prévia para boa saúde física e mental. Durante muito tempo pensou-se que a formação de novas células nervosas no sistema nervoso central cessava à nascença ou pouco depois. Mas acontece que o cérebro continua a produzir novas células nervosas, em vários locais, e a plasticidade do cérebro mantém-se durante toda a vida. Estudos anteriores já demonstraram que correr estimula a produção de neurónios no hipocampo, que é a região do cérebro responsável pela aprendizagem, memória e orientação. Todavia, os cientistas ainda não perceberam quais as moléculas que iniciam o processo.

O exercício físico aumenta o teor de um composto de selénio específico no cérebro

Tara Walker, neurologista no University of Queensland’s Brain Institute, na Austrália, coordenou o novo estudo. Há cerca de 7 anos, Tara Walker estudou o plasma de ratos que correram em tapetes rolantes por um período de quatro anos. As amostras de sangue foram comparadas com amostras de sangue de ratos inactivos. Walker e a sua equipa de cientistas identificaram níveis elevados de 38 proteínas nos ratos fisicamente activos. Notou-se especialmente uma proteína em concreto, a chamada selenoproteína P, pois os níveis desta proteína duplicaram. Esta descoberta é especialmente importante porque a selenoproteína P transporta selénio para o cérebro. Aqui, o selénio favorece, entre outras, a renovação energética e a regulação genética. O selénio tem igualmente propriedades antioxidantes e protege as células cerebrais contra os danos oxidativos causados pelos radicais livres. Como o cérebro humano contém grande quantidade de ácidos gordos polinsaturados e é profusamente irrigado, é especialmente vulnerável aos danos oxidativos, que podem destruir neurónios e células protectoras. O selénio é, por isso, primordial no funcionamento e protecção antioxidante do cérebro.

  • O selénio favorece cerca de 25 selenoproteínas diversas
  • A selenoproteína P transporta o selénio no sangue, levando-o ao cérebro e a outros tecidos
  • As diversas selenoproteínas têm múltiplas funções e favorecem, entre outras, a renovação energética, regulação genética e arquitectura celular
  • O selénio também reforça complexos antioxidantes potentes que protegem as células contra danos do stress oxidativo

O selénio tem um papel essencial na formação de novos neurónios

No seu novo estudo, a Dra. Walker e colegas observaram que, quando injectado um composto de selénio directamente no cérebro de ratos, os níveis de determinados neurónios no hipocampo triplicaram. Os cientistas também constataram que os ratos com falta de selenoproteína P ou respectivo receptor não conseguem formar novos neurónios associado a actividade física. Daí suporem que a selenoproteína P é essencial para a formação de neurónios.
Em seguida, os cientistas propuseram-se estudar se o selénio pode prevenir os processos de envelhecimento do cérebro. Para tanto, adicionaram um composto de selénio, chamado selenometionina, à água de beber dos ratos com mais de 18 meses (o equivalente a 60 anos nos humanos).
Um mês mais tarde, o número de neurónios no hipocampo dos ratos tinha duplicado. Os ratos que receberam selénio também apresentavam sinais de melhoria da memória quando sujeitos a várias tarefas. Foram comparados com um grupo de controlo para mostrar a diferença.
Por último, os cientistas verificaram se o selénio é capaz de prevenir a perda cognitiva causada por lesão cerebral. Os ratos foram sujeitos a lesão do hipocampo, provocando deterioração dos neurónios e da memória, em tudo semelhante ao que acontece quando alguém sofre um AVC. Ora, os ratos que foram tratados subsequentemente com selénio recuperaram a memória, contrariamente aos ratos que não receberam selénio. Tudo indica que o selénio tem a particularidade de ajudar o cérebro a formar novos neurónios.
O novo estudo está publicado na Cell Metabolism.

O selénio como forma inovadora de tratar e prevenir o declínio cognitivo

Bárbara Cardaso, neurologista do Monash University´s Victorian Heart Institute, na Austrália, apelidou-o de “estudo extraordinário”. Em investigação anterior, Bárbara Cardaso demonstrou que a suplementação com selénio em idosos pode melhorar as capacidades de linguagem, memória e de reprodução de imagens. Segundo Bárbara Cardaso, os suplementos de selénio podem ser usados na terapêutica ou prevenção do declínio cognitivo em pessoas que não podem ter actividade física ou susceptíveis de obter muito pouco selénio. Nestes incluem-se doentes de mais idade que sofreram AVC ou com diagnóstico de doença de Alzheimer.
A insuficiência de selénio é bastante generalizada na Europa, China e outras regiões do mundo, devido aos baixos níveis de selénio no solo agrícola. Tudo indica que isto aumenta o risco de declínio cognitivo, a menos que se usem suplementos para compensar a insuficiência.

  • A selenoproteína P tem um papel essencial na formação e protecção dos neurónios
  • O selénio ajuda a conservar ou melhorar as capacidades cognitivas – mesmo em pessoas sem actividade física
  • Contudo, isto só acontece se o selénio for em quantidade suficiente

Referências bibliográficas

Odette Leiter et al. Selenium mediates exercise-induced adult neurogenesis and reverses learning deficits induced by hippocampal injury and aging. Cell Metabolism. February 3, 2022

Rodrigo Pérez Ortega. Widely available supplement may explain brain boost from exercise. Science.org 3, Feb 2022

Aparna Shreenath. Selenium Deficiency. StatPearls. May 6, 2019


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