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O selénio consegue mesmo retardar o envelhecimento e aumentar a esperança de vida?

O selénio consegue mesmo retardar o envelhecimento e aumentar a esperança de vida?O selénio favorece vários processos metabólicos e constitui um antioxidante que protege as células. Segundo estudos recentes, o selénio tem igualmente propriedades antienvelhecimento que conferem protecção contra doença cardiovascular, cancro, demência e outras doenças relacionadas com a idade. Segundo um artigo de revisão, publicado no Medical News Today, o selénio também ajuda a combater a imunodepressão e neutraliza a inflamação crónica que, normalmente, se observa nos processos de envelhecimento. Um estudo sueco com idosos saudáveis mostrou inclusivamente que a suplementação com selénio e Q10 tem efeito positivo na função cardíaca, na qualidade de vida e na esperança de vida.

O selénio é um oligoelemento, o que significa que é um composto de que apenas precisamos em quantidades relativamente pequenas. Não obstante o selénio ser necessário em pouca quantidade, é um nutriente essencial porque favorece mais de 25 selenoproteínas, que regulam funções como a síntese de ADN, renovação energética, hormonas tiroideias, fertilidade, defesas imunitárias, e a regulação dos processos inflamatórios.
O selénio também é um componente essencial de antioxidantes importantes, como GPX (glutationa peroxidase) e TDR (tioredoxina redutases), que protegem as células e os tecidos contra os radicais livres.
Os radicais livres são moléculas extremamente reactivas, que o organismo produz como parte do metabolismo energético, da sinalização celular, dos ataques do sistema imunitário aos micróbios, e de vários outros processos fisiológicos. Contudo, os radicais livres devem ser controlados. Se não forem controlados, tendem a desencadear reacções em cadeia que podem ter acção nociva no colesterol, membranas celulares e ADN. Isto pode acabar por provocar lesão celular, inflamação, envelhecimento prematuro da pele e várias doenças associadas à idade. Os antioxidantes são os únicos que podem proteger o organismo contra a agressão dos radicais livres. São especialmente importantes os antioxidantes que contêm selénio. Executam funções que mais nenhum outro antioxidante consegue.

  • Os radicais livres são produzidos naturalmente pelo organismo em diversos processos metabólicos
  • A carga de radicais livres aumenta com os processos de envelhecimento, intoxicação, inflamação, tabagismo e raios UV do sol
  • O stress oxidativo é uma situação em que os radicais livres são em maior número que os antioxidantes protectores
  • Os antioxidantes que contêm selénio têm funções essenciais que mais nenhum outro antioxidante tem

Vantagens do selénio no antienvelhecimento

Os processos de antienvelhecimento biológicos são complexos e implicam lesão molecular, desequilíbrios metabólicos, aterosclerose, alterações no sistema imunitário, aumento da sensibilidade a factores de stress no ambiente, e várias perturbações relacionadas com a idade. Segundo um artigo de revisão de 2018, o selénio tem a capacidade de neutralizar os processos de envelhecimento e prevenir diversas doenças relacionadas com a idade, como doença cardiovascular, cancro e doenças neurológicas. Isto porque o selénio neutraliza a inflamação crónica que, normalmente, se observa na velhice. A inflamação crónica também está associada a maior vulnerabilidade a infecções, como infecção por SARS-CoV-2 e influenza.
Outros estudos mostram que as selenoproteínas são responsáveis por vários benefícios para a saúde. Por exemplo, um artigo de revisão, de 2021, constatou que as selenoproteínas têm um papel crucial na remoção de proteínas dobradas de forma anormal, que tendem a acumular-se no organismo à medida que envelhecemos. Os especialistas constataram que as proteínas dobradas de forma anormal são um sinal normal de doenças relacionadas com a idade, como seja diabetes tipo 2 e doença de Alzheimer. Os cientistas também observaram que os antioxidantes que contêm selénio, como GPX e TDR, protegem a pele contra os raios UV do sol. A TDR encontra-se nos queratinócitos, que são as células predominantes na epiderme.
Um estudo de 2020 constatou que o aumento do aporte de selénio está associado ao aumento do comprimento dos telómeros. Os telómeros são a porção terminal do braço dos cromossomas. De cada vez que a célula se divide, os telómeros ficam ligeiramente mais curtos, pelo que são determinantes do número de vezes que uma célula pode dividir-se e de quando morre. Alguns cientistas utilizam o comprimento dos telómeros para avaliar o processo de envelhecimento, e muitos investigadores estão convencidos de que níveis elevados de selénio no sangue estão associados a maior esperança de vida. Os cientistas constataram que os idosos com níveis elevados de selénio no sangue têm uma taxa de mortalidade global consideravelmente inferior à dos que têm baixos níveis séricos do nutriente.
Também se observou que as pessoas centenárias têm níveis séricos de selénio e ferro mais elevados e níveis séricos de cobre mais baixos comparativamente às outras.
Os estudos demonstram que o selénio confere protecção contra muitas doenças relacionadas com a idade, como as que seguem:

Selenoproteínas e respectivos mecanismos antienvelhecimento

  • Reforço de diversos processos metabólicos
  • Importantes para a renovação energética e melhor metabolismo do Q10
  • Importantes para a síntese de ADN e remoção das proteínas dobradas de forma anormal
  • Importantes para o comprimento dos telómeros
  • Importantes para o sistema imunitário e processos inflamatórios
  • Reforço de vários sistemas antioxidantes
  • Protecção de células e tecidos contra o stress oxidativo
  • Protecção da pele contra os raios UV
  • Reparação dos danos oxidativos

Doença cardiovascular

A doença cardiovascular é a causa principal de morte. Numa metanálise, verificou-se que baixos níveis séricos de selénio estão associados a maior incidência de doença cardiovascular. Verdade seja dita, há estudos que não conseguiram demonstrar que a suplementação com selénio pode reduzir a mortalidade cardiovascular. Por outro lado, não faz grande sentido tomar selénio suplementar, se o aporte de selénio e os níveis séricos de selénio já forem devidamente elevados, o que, por regra, acontece em países como os Estados Unidos, onde o solo tem selénio suficiente. A qualidade e a biodisponibilidade dos suplementos de selénio também influem nos resultados dos estudos, pelo que devem ser tidas em conta.
O estudo sueco KiSel-10 foi realizado com selénio e Q10, em associação, administrados a idosos saudáveis. Os terrenos de cultivo europeus são pobres em selénio. Além disso, a síntese de Q10 pelo organismo diminui com a idade. Daí que, muitas vezes, as pessoas de mais idade tenham falta dos dois nutrientes. Os participantes receberam suplementos diários de levedura de selénio (200 microgramas/dia) e Q10 (200 mg/dia). Ambos os suplementos eram de qualidade farmacêutica. O estudo completo durou cinco anos e mostrou que o grupo que recebeu os suplementos tinha uma taxa de mortalidade cardiovascular 54 por cento inferior e taxa de internamentos consideravelmente inferior, comparativamente ao grupo que recebeu placebo.
Um estudo de seguimento de 12 anos mostrou que a suplementação com selénio e Q10 tinha inclusivamente efeito prolongado na função cardíaca e na esperança de vida. É plausível que a utilização continuada dos suplementos leve a um efeito ainda mais marcado.

  • O estudo KiSel-10 é diferente de outros estudos na medida em que se concentrou em pessoas saudáveis e no que estas podem fazer para se manterem de boa saúde

Cancro

É do conhecimento geral que factores como tabagismo, excesso de peso, ingestão de carne processada, ingestão de álcool, e exposição aos raios UV do sol podem aumentar o risco de cancro. Ainda assim, continua a haver pessoas que desenvolvem cancro, apesar de observarem as orientações oficiais para uma vida saudável. Um factor que pode contribuir – e muitas vezes ignorado – é a falta de selénio. Vários grandes estudos mostraram diferenças nos níveis de selénio, em amostras de sangue e de unhas, de doentes oncológicos e sujeitos saudáveis, diferenças essas que são detectáveis muito antes do aparecimento da doença.
O selénio tem vários mecanismos anticancerígenos, como seja regular e activar inúmeros genes. Os antioxidantes que contêm selénio protegem contra a deterioração do ADN e mutações. O selénio é igualmente importante para o sistema imunitário, ajudando-o a destruir células anómalas. O selénio também regula os processos inflamatórios que, muitas vezes, surgem associados ao cancro.
Vários estudos mostraram que o selénio ajuda a prevenir cancros comuns, como cancro da mama, cancro da próstata e cancro colo-rectal.
Contudo, o chamado estudo SELECT não conseguiu demonstrar um efeito protector no cancro, mas isso é compreensível. Em primeiro lugar, os participantes no estudo já tinham níveis séricos de selénio elevados.
Em segundo lugar, os cientistas não utilizaram levedura de selénio com diversas variedades de selénio, mas deram aos participantes uma só fonte de selénio, chamada selenometionina, em associação com vitamina E de síntese.

  • Décadas de investigação mostram que há uma clara relação entre insuficiência de selénio e tipos de cancro comuns.

Perturbações da tiróide

As perturbações da tiróide estão a tornar-se cada vez mais frequentes e estão associadas a diversos sintomas que, muitas vezes, são mal diagnosticados. A glândula tiróide contém mais selénio do que qualquer outro tecido do organismo, o que indica que o selénio tem um papel primordial no metabolismo do organismo. A tiróide segrega duas hormonas: uma é a chamada T4 (que contém quatro átomos de iodo), a outra é a chamada T3 (que contém três átomos de iodo).
A T4 é inactiva. Diversas selenoproteínas (deiodinases) têm de activá-la primeiro, retirando-lhe um átomo de iodo, transformando-a assim em T3 activa. Esta transformação ocorre a par do metabolismo do organismo. Os antioxidantes GPX que contêm selénio também protegem a tiróide, sujeita a actividade intensa, contra o stress oxidativo.
As perturbações da tiróide, como a tiroidite de Hashimoto, que provoca metabolismo lento (hipotiroidismo), são muito comuns. Já a doença de Graves, que faz precisamente o contrário e acelera o metabolismo, não é tão comum. Estes dois tipos de perturbações da tiróide são de natureza auto-imune. Os estudos mostram que a suplementação diária com 200 microgramas de selénio, administrada a doentes com perturbações auto-imunes da tiróide, pode ter efeito positivo num período de 3-6 meses. Dois grandes estudos em curso (CATALYST e GRASS) estão a investigar a eficácia da administração de 200 microgramas diários de selénio a doentes da tiróide que não têm melhoria com as terapêuticas convencionais.

Declínio cognitivo

O número de idosos está a aumentar, tal como está a proporção de pessoas com declínio cognitivo. A doença de Alzheimer é a causa principal de demência. As diversas selenoproteínas têm um papel importante no sistema nervoso central. Os antioxidantes GPX neutralizam o stress oxidativo, o que é muito importante porque o cérebro é especialmente vulnerável aos ataques dos radicais livres, devido a ser profusamente irrigado e ao elevado teor de ferro e ácidos gordos insaturados.
A insuficiência de selénio pode levar a défices de diversos neurotransmissores, o que aumenta o risco de doenças neurológicas. Observou-se que os doentes de Alzheimer têm concentrações de selénio cerca de 60 por cento inferiores às concentrações de selénio em sujeitos saudáveis. Uma equipa de cientistas, de Munique, analisou os mecanismos dos antioxidantes GPX que contêm selénio para proteger os neurónios do cérebro contra um tipo de morte celular, conhecida for ferroptose.

  • Os níveis séricos de selénio, normalmente, diminuem com a idade. Pensa-se, por isso, que baixa concentração de selénio compromete a função cerebral

Níveis séricos de selénio e respectivo impacto na mortalidade

Durante décadas, a professora britânica, Margaret Rayman, abordou a alarmante insuficiência de selénio na Europa. Em 2012, publicou um estudo na Lancet, que analisa as propriedades antienvelhecimento do selénio. O estudo mostra que há relação entre taxas de mortalidade e níveis séricos de selénio.

Níveis séricos de selénio

  • Abaixo de 105 microgramas por litro = mortalidade aumentada
  • 105-170 microgramas por litro = mortalidade abaixo da média
  • 130-150 microgramas por litro = mortalidade mais baixa

O nível médio de selénio na Europa situa-se entre 80-100 microgramas por litro. Este nível está associado a maior risco de morte prematura

O selénio nos alimentos e suplementos

Obtemos selénio no peixe, marisco, miúdos, ovos, lacticínios e castanha do Pará. As colheitas na Europa são muito pobres em selénio porque os terrenos de cultivo são pobres no nutriente. Esta é uma das razões principais por que os europeus têm falta de selénio. Os idosos podem ter mais necessidade de selénio devido ao facto de, neles, as enzimas terem actividade lenta, além de que os idosos estão mais sujeitos a stress oxidativo.
O aporte de selénio recomendado (dose de referência) na Dinamarca é de 55 microgramas por dia, mas só cerca de 20 por cento da população obtém esta quantidade. Os estudos mostram que são necessários 100 microgramas de selénio para saturar a selenoproteína P, a proteína que é utilizada como marcador da concentração de selénio no organismo. Muitos dos estudos que analisaram as doenças cardiovasculares, cancro e perturbações da tiróide foram realizados com doses diárias de 200 microgramas por dia. A EFSA (Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar) fixou a dose máxima diária de segurança em 300 microgramas.

Composto que contém selénio e respectiva função:

  • Deiodinase tipo 1-3: Hormonas tiroideias
  • 1-6 (Glutationa peroxidase): antioxidantes potentes
  • Selenoproteína S: Regulação das citocinas e da reacção inflamatória celular
  • Selenoproteína P: Antioxidante e transporte do selénio no organismo
  • Selenoproteína R e N1: Antioxidantes com várias outras funçõesSelenoproteína M: Grandes concentrações no tecido cerebral. Não se conhece inteiramente a sua função
  • Selenoproteína T: Intervém na estrutura celular e proteínas
  • TXNRD 1-3: Antioxidantes, renovação energética mitocondrial, e metabolismo
  • MSRB1: Repara os danos oxidativos
  • Metilselenol: Neutraliza a produção excessiva e transporte de ligandos NKG2D problemáticos
  • TDR (tioredoxina redutase): Antioxidante que protege contra os raios UV do sol
  • Mesmo a mínima insuficiência de selénio pode impedir o funcionamento perfeito de todas as selenoproteínas.

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