O metabolismo do selénio na diabetes e terapêuticas antineoplásicas
O selénio é um oligoelemento que favorece bem mais que 25 selenoproteínas, que são importantes para renovação energética, controlo glicémico, metabolismo, protecção celular e toda uma série de outras funções essenciais. Um grupo de cientistas da Universidade Rutgers, em New Jersey, EUA, acaba de descobrir os mecanismos que fazem chegar o selénio ao núcleo de acção das células, a partir de onde é metabolizado em diversas selenoproteínas. Segundo os cientistas, este novo conhecimento do metabolismo do selénio pode conduzir a novas terapêuticas no tratamento de diversas doenças como diabetes, perturbações metabólicas e cancro.
O novo estudo descreve em pormenor os processos exactos através dos quais o selénio, da alimentação ou dos suplementos, primeiro, se incorpora nos aminoácidos essenciais, na selenocisteína e, em seguida, se metaboliza em mais de 25 selenoproteínas conhecidas, que têm inúmeras funções essenciais no organismo. Mediante crio-microscopia electrónica especial, foi possível aos cientistas a visualização tridimensional dos mecanismos celulares. Puderam assim visualizar distintamente as diversas estruturas das proteínas e outras moléculas, e até observar mais de perto como estas estruturas se deslocam e alteram dentro da célula. Este estudo mostrou estruturas do selénio únicas e partes do metabolismo das selenoproteínas que nunca antes tinham sido observadas. Segundo os cientistas, os resultados do estudo são importantes para compreender os mecanismos com respeito ao desenvolvimento de novas terapêuticas no tratamento de diversas doenças.
O metabolismo do selénio reflecte as muitas funções deste oligoelemento
A incorporação do selénio tem lugar bem no interior da célula. Os cientistas já sabiam que determinadas moléculas e ARN intervinham neste processo. Há que acrescentar que o ARN é um ácido nucleico presente em todas as células e que intervém na síntese proteica. Mas os cientistas sabiam pouco sobre as fases subsequentes – pelo menos até agora.
Neste estudo, descobriram que a selenoproteína está ligada a uma molécula especial de ARN na célula e que, em seguida, é transportada para o ribossoma com a ajuda de um factor proteico. Quando isto acontece, o selénio pode ser incorporado nas muitas selenoproteínas.
Uma vez incorporado nas selenoproteínas, esta consegue levar a cabo uma série de funções celulares, necessárias para o crescimento e desenvolvimento e protecção celular. As selenoproteínas são essenciais para muitas funções específicas, das quais algumas das mais importantes são:
- Formação das membranas celulares
- Formação de nucleótidos, que são constituintes do ADN celular
- Metabolismo do Q10, um composto que intervém na renovação energética celular
- Degradação da gordura para a renovação energética
- Activação das hormonas tiroideias
- Fertilidade
- Defesas imunitárias
- Reforço dos antioxidantes que protegem as células contra danos causados pelos radicais livres e stress oxidativo
A carência de selénio pode provocar várias doenças
Os cientistas responsáveis pelo novo estudo afirmam que a falta de selénio pode causar várias doenças, porque as células não conseguem executar as respectivas funções ou proteger-se contra lesão, inclusive do respectivo ADN. São referidas doenças como cancro, doença cardiovascular, baixa fertilidade, diabetes e perturbações da tiróide. Ao conhecer os mecanismos exactos que intervêm na incorporação da selenocisteína nas células e na metabolização em diversas selenoproteínas, possuem agora conhecimentos que podem contribuir para desenvolver novas terapêuticas para muitas doenças.
O estudo está publicado na publicação científica Science.
Carência generalizada de selénio e formas de compensá-la
Os terrenos de cultivo em vastas regiões da Europa são muito pobres em selénio, pelo que o teor de selénio nas colheitas é igualmente baixo. Na Dinamarca, a dose diária recomendada de selénio é de 55 microgramas. Contudo, os estudos mostram que são necessários cerca de 100-150 microgramas diários de selénio para saturar, com eficácia, a selenoproteína P, que é utilizada como marcador da concentração de selénio no organismo. Em muitos estudos de doentes com cancro e perturbações da tiróide, o selénio foi administrado em doses diárias de 200 microgramas.
- Quando o organismo tem falta de selénio, as diversas selenoproteínas não funcionam devidamente
- Daí a carência de selénio explicar muitos tipos de doenças
Referências bibliográficas:
Tarek Hilal et al. Structure of the mammalian ribosome as it decodes the selenocysteine UGA codon. Science, 2022; 376 (6599): 1338 DOI: 10.1126/science.abg3875
Rutgers University. "Vital cell machinery behind the human body's incorporation of selenium observed." ScienceDaily, 20 June 2022.
Ola Brodin et al. Selenoprotein P as Biomarker of Selenium Status in Clinical Trials with Therapeutic Dosages of Selenit. Nutrients 2020 Apr 12.