A suplementação com Q10 reduz a fadiga crónica, tanto em pessoas saudáveis como doentes
O Q10 é um elemento crucial na renovação energética celular, além de constituir um antioxidante protector. O nosso organismo é capaz de produzir a maior parte do próprio Q10, mas com a idade a síntese de Q10 endógeno diminui, e o mesmo acontece com certas doenças e em consequência da toma de certos tipos de medicamentos. Uma grande metanálise mostrou que a suplementação com Q10 consegue reduzir a fadiga crónica em pessoas saudáveis, bem como em pessoas com doenças. Ao que tudo indica, a toma de doses maiores por mais tempo resulta melhor para os níveis de energia. É fundamental optar por um suplemento de Q10 de qualidade adequada e com documentação que garanta que as moléculas de Q10 são devidamente absorvidas no sangue e chegam às centrais eléctricas energéticas das células.
Tem havido discordância quanto a se o Q10 consegue ou não reduzir a fadiga crónica; por isso, uma equipa de cientistas decidiu realizar uma metanálise sobre o tema. Depois de pesquisar várias bases de dados científicos, os investigadores reuniram 13 ensaios controlados aleatorizados (RCTs) que tinham sido publicados antes de Janeiro de 2022. Os estudos envolveram um total de 1126 participantes com história de fadiga crónica associada a diversas doenças, como fibromialgia, insuficiência cardíaca, excesso de peso, cancro da mama (com quimioterapia), doenças renais, poliomielite e esclerose. Havia igualmente participantes saudáveis apenas com queixas de fadiga crónica. Os participantes nos diversos ensaios receberam suplementação com Q10 por um período entre quatro e 24 semanas, numa dose diária entre 30-500 mg.
Os cientistas observaram que o Q10, quando comparado com placebo, diminuiu significativamente a fadiga crónica, segundo a pontuação do efeito g de Hedge, geralmente usada. Observou-se efeito positivo tanto nos participantes saudáveis como nos doentes. Os cientistas também puderam observar que a dose de Q10 é determinante para o efeito do suplemento. Doses de Q10 mais elevadas produziram efeito significativo, o que não aconteceu com suplementação em dose baixa. É importante optar por uma formulação com boa absorção, para garantir que o composto activo chega às células.
- A fadiga crónica também é conhecida por SFC (síndrome de fadiga crónica) e EM (encefalomielite miálgica)
A fadiga crónica é comum entre pessoas saudáveis e pessoas com doença
A fadiga crónica é um cansaço generalizado anormal que não se pode associar a exaustão física ou mental, ou a dormir pouco e a falta de repouso. Até 45% da população em geral podem sofrer de fadiga por curtos períodos de tempo, ao passo que 2 a 11 por cento sofrem de fadiga crónica (durante mais de seis meses). A fadiga crónica também está generalizada entre pessoas de mais idade ou que sofram de várias doenças, ou pessoas a fazer quimioterapia ou terapêutica com antidislipidémicos, anti-histamínicos, e várias outras terapêuticas. A fadiga crónica está associada a um enorme custo pessoal e socioeconómico. Embora a fadiga crónica possa ser consequência de diversos factores genéticos e ambientais, tudo parece indicar que as disfunções nas centrais energéticas das células, as chamadas mitocôndrias, podem ter influência. O mesmo se passa com a inflamação crónica, que, embora normalmente não se sinta, é uma situação em que o organismo é atacado com radicais livres que podem provocar lesão dos neurónios e outras células.
Os doentes com fadiga crónica têm menor concentração de Q10 no sangue
As mitocôndrias transformam gorduras, proteínas e hidratos de carbono alimentares em ATP (adenosina trifosfato), que é energia concentrada na forma química. Com a ajuda do Q10, as células podem degradar ATP e libertar a energia retida no interior. Esta energia é usada para, por ex., funcionamento muscular, actividade mental, digestão e reparação tecidual. Além disso, o Q10 é um antioxidante potente que protege as células e respectivas mitocôndrias contra danos oxidativos provocados pelos radicais livres.
Está demonstrado que os doentes com história de síndrome de fadiga crónica têm níveis sanguíneos de Q10 inferiores aos de pessoas saudáveis. Além disso, nas pessoas com fadiga crónica, os níveis de Q10 no sangue são inversamente proporcionais à gravidade da doença. Isto pode acabar por afectar o coração, que consome grande quantidade de Q10 para funcionar ininterruptamente.
Os cientistas administraram doses elevadas de Q10 a doentes com fadiga crónica, inclusive com fibromialgia. Consoante os níveis de Q10 dos próprios doentes, os investigadores recomendam a toma de cerca de 200-600 mg diários. É fundamental continuar a tomar o suplemento de Q10 para optimizar os níveis do nutriente no sangue e nas células, porque a fadiga crónica pode ser provocada por disfunções complexas na renovação energética mitocondrial. E o que é mais importante, o Q10 é um antioxidante que protege as células contra lesão causada por radicais livres e inflamação crónica. Daí os cientistas afirmarem que poderá ser necessária suplementação por um período de três meses ou mais. Em relação às doenças mitocondriais congénitas ou outros problemas que envolvam disfunções mitocondriais, pode ser necessária suplementação duradoura com Q10.
A nova metanálise, que está publicada em Frontiers in Pharmacology, corrobora um pequeno estudo recente (Jesus Castyro-Marreo et al.) em que os doentes com fadiga crónica receberam 400 mg de Q10 e 200 microgramas de selénio em associação. O motivo para associar os dois nutrientes prende-se com o facto de a carência de selénio ser bastante generalizada na Europa. Além disso, o selénio potencia as propriedades do Q10 enquanto fonte energética e antioxidante.
Há dois tipos de Q10
- A ubiquinona intervém na renovação energética mitocondrial
- O ubiquinol constitui um antioxidante e encontra-se essencialmente no sangue
- Os dois tipos de Q10 transformam-se permanentemente, ora num, ora noutro, consoante a forma de que o organismo precisa
- Devido à alternância, a qualidade e a biodisponibilidade de um suplemento de Q10 são mais importantes do que o tipo de Q10 que contém
Absorção e qualidade dos suplementos de Q10
Por natureza, as moléculas de Q10 agregam-se formando grandes cristais que não se dissolvem assim tão facilmente e, por isso, o sistema digestivo tem dificuldade em absorvê-los. Mediante uma técnica de aquecimento especial, é possível produzir uma formulação especial em que os cristais de Q10 se dissolvem completamente à temperatura corporal, o que permite às moléculas de Q10 atravessarem a parede intestinal e entrarem na corrente sanguínea. Daí ser fundamental optar por um suplemento com qualidade e biodisponibilidade comprovadas, de modo a garantir que o ingrediente activo chega às células e respectivas mitocôndrias.
A ubiquinona é mais estável do que o ubiquinol, porque não oxida tão facilmente. A ubiquinona transforma-se automaticamente em ubiquinol no organismo, para manter o equilíbrio adequado entre as duas formas de Q10. O ideal é tomar o suplemento de Q10 ao pequeno-almoço; e como há um limite de absorção aos 100 mg, a suplementação com Q10 em doses elevadas deve ser fraccionada em várias doses durante o dia, de preferência com algumas horas de intervalo entre cada toma
Referências bibliográficas:
I-Chen Tsai et al. Effectiveness of Coenzyme Q10 Supplementation for Reducing Fatigue: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Frontiers in Pharmacology. 2022
Jesús Castro-Marreo et al. Does Coenzyme Q10 Plus Selenium Supplementation Ameliorate Clinical Outcomes by Modulation Oxidative Stress and Inflammation in Individuals with Myalgic Encephalomyelitis/Chronic Fatigue Syndrome? ANTIOXIDANTS & REDOX SIGNALING. 2022
Jan Aaset, Jan Alexander, Urban Alehagen. Coenzyme Q10 supplementation – In ageing and disease. Mechanisms of Ageing and Development. 2021
Illenia Cirilli et al. Role of Coenzyme Q10 in Health and Disease: an update on the last 10 years (2010-2020). Antioxidants 2021
Pernille Lund. Q10 – fra helsekost til epokegørende medicin. Ny Videnskab 2014