Q10 e ácido alfa-lipóico no tratamento da COVID-19 longa

Após infecção por SARS-CoV-2, muitas pessoas ficam com sintomas crónicos como fadiga, dor muscular, depressão e perturbações do sono. Segundo um estudo publicado na Clinical and Experimental Medicine, a suplementação com Q10 e ácido alfa-lipóico pode ajudar a combater o cansaço e outros sintomas. Os autores descrevem de que modo o Q10 e o ácido alfa-lipóico favorecem a renovação energética celular em vários sentidos e constituem antioxidantes que protegem as células contra stress oxidativo e lesão celular.

Neste estudo, que durou dois meses e está publicado na Clinical and Experimental Medicine, participaram, no total, 174 doentes com idades compreendidas entre os 18 e 81 anos. Todos com história de síndrome de COVID crónica. Cinquenta e dois por cento dos doentes já tinham outras doenças, como doenças pulmonares, diabetes tipo 2, perturbações mentais e reumatismo. A fadiga crónica foi avaliada através da chamada Escala de Severidade da Fadiga (FSS). Quanto pior for o grau de fadiga e o seu impacto na vida diária, mais alta a pontuação.
Os doentes foram divididos em dois grupos em função de idade, sexo, IMC e vários outros parâmetros. Um grupo recebeu suplementação com 100 mg de Q10 e 100 mg de ácido alfa-lipóico, enquanto o outro grupo (grupo de controlo) recebeu placebo correspondente.
O grupo de terapêutica activa saiu-se muito melhor na escala FSS do que o outro grupo. Mais concretamente, 53,5% dos doentes do grupo que recebeu suplementação conseguiram uma redução de pontos superior a 50%. Já no grupo de controlo, apenas 3,5% das pessoas conseguiram melhoria semelhante. Uma diminuição dos pontos de severidade da fadiga inferior a 20% foi interpretada como ausência de resposta. Segundo os cientistas, este é o primeiro estudo a avaliar o efeito do Q10 e do ácido alfa-lipóico na síndrome de COVID crónica.

De que modo o Q10 e o ácido alfa-lipóico afectam os níveis de energia e a saúde celular?

Q10 é uma coenzima essencial para a capacidade das mitocôndrias produzirem ATP na chamada cadeia de transporte de electrões. Além disso, o Q10 constitui um antioxidante potente que protege as células e os tecidos contra lesão causada pelo stress oxidativo. O organismo consegue sintetizar a maior parte do Q10 para as suas necessidades. Contudo, está demonstrado que os níveis do composto baixam em caso de doença aguda e crónica ou em consequência da toma de antidislipidémicos (estatinas). Vários estudos demonstraram que a suplementação com Q10 pode reduzir a fadiga crónica. Nas disfunções mitocondriais, muitas vezes, é necessário tomar doses diárias entre 100-500 mg.
As mitocôndrias conseguem sintetizar o ácido alfa-lipóico, e este composto regula vários processos que intervêm na produção de ATP. Além disso, o ácido alfa-lipóico é um antioxidante que ajuda o organismo a reciclar outros antioxidantes, como a vitamina C e a vitamina E. Ao que parece, o ácido alfa-lipóico tem inclusivamente acção antiviral.
Segundo um estudo (Sadeghiyan Galeshkalami et al.), o Q10 e o ácido alfa-lipóico em associação atenuam a neuropatia diabética, ao regular o stress oxidativo e a apoptose (morte celular programada).
Os cientistas responsáveis pelo novo estudo relatam que as duas substâncias têm efeito sinérgico que pode reduzir a fadiga associada à síndrome de COVID crónica. Consideraram necessários estudos maiores e de maior duração, controlados com placebo e duplamente cegos.

• Conseguimos sintetizar o Q10 e o ácido alfa-lipóico
• A síntese endógena diminui com a idade
• Em certas situações, a doença aguda ou crónica pode diminuir a síntese endógena das substâncias
• O Q10 e o ácido alfa-lipóico funcionam em sinergia na renovação energética e como antioxidantes, razão pela qual os cientistas optaram por associar os dois compostos

Referências bibliográficas

Maria Angela Barletta et al. Coenzyme Q10 + alpha lipoic acid for chronic COVID syndrome. Clinical and Experimental Medicine 2022

I-Chen Tsai et al. Effectiveness of Coenzyme Q10 Supplementation for Reducing Fatigue: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Frontiers in Pharmacology. 2022