O défice de Q10 e selénio acelera o envelhecimento e aumenta o risco de doença degenerativa e morte precoce
É do conhecimento geral que as doenças degenerativas, como doença cardiovascular, diabetes, problemas renais e doenças hepáticas, muitas vezes, estão ligadas a pouca qualidade de vida e menor esperança de vida. A suplementação com Q10, eventualmente em conjunto com levedura de selénio, pode ter influência positiva nas situações referidas e diminuir o risco de morte prematura em 50 por cento ou mais. Na verdade, segundo uma grande revisão, publicada online pelo NCBI (National Center for Biotechnology Information), o Q10 pode ajudar a retardar o processo de envelhecimento ao proteger o coração, o sistema cardiovascular e as células. Como se refere neste artigo, é fundamental utilizar suplementos com qualidade farmacêutica para absorção adequada no sangue e tecidos.
A nossa saúde e esperança de vida dependem de diversos factores, como seja genes, ambiente, alimentação e estilo de vida. Segundo as estatísticas, uma pessoa de 70 anos saudável, sem doenças crónicas, pode viver até aos 90 ou 100 anos, ao passo que uma pessoa de 70 anos com doenças crónicas pode viver, quando muito, mais oito anos. Os problemas crónicos são os que provocam mais mortes e estão associados a deterioração da qualidade de vida, em parte devido à doença em si, mas também por causa dos efeitos secundários da terapêutica farmacológica para tratar estes problemas. Daí ser importante prevenir estas doenças, e muito se pode fazer através de uma alimentação equilibrada, prática de exercício e adopção de um estilo de vida saudável. Além disso, poderá ser boa ideia tomar suplementos de Q10 e levedura de selénio, como se refere no artigo, visto que podem prevenir ou melhorar doenças cardiovasculares, diabetes, problemas renais e doenças hepáticas.
O que é o Q10 e como funciona?
O Q10 é uma molécula única com diversas funções. O nosso organismo sintetiza a maior parte do Q10 para as suas necessidades, e o fígado é o seu principal fornecedor. Contudo, a síntese de Q10 endógena diminui à medida que envelhecemos, bem como com determinados tipos de medicamentos e várias doenças. A suplementação com Q10 tem efeito positivo ao favorecer as seguintes funções:
- Reforça a renovação energética celular (produção de ATP) no interior das mitocôndrias. O Q10 está presente em grande quantidade no coração, fígado, rins e outros órgãos, devido à sua grande necessidade de energia. Com a idade, o Q10 nestes órgãos diminui.
- Actua como antioxidante potente que protege os lípidos, as células e as mitocôndrias contra os radicais livres virtualmente nocivos
- Neutraliza o stress oxidativo, um desequilíbrio entre os radicais livres virtualmente nocivos e os antioxidantes protectores
- Protege contra a inflamação, a qual intervém na maioria das doenças crónicas, mesmo naquelas que não têm sintomas visíveis
- Intervém na replicação e activação do ADN
- Intervém na reparação do ADN
Doença cardiovascular
Vários estudos demonstraram haver efeito positivo do Q10 na doença cardiovascular. Na revisão atrás referida são mencionados dois estudos: Q-SYMBIO (realizado em doentes com insuficiência cardíaca) e KiSel-10 (realizado em pessoas saudáveis).
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Estudo Q-SYMBIO: Q10 usado como um novo tipo de tratamento da insuficiência cardíaca
As amostras de tecido cardíaco de pessoas com insuficiência cardíaca mostram uma relação clara entre níveis de Q10 e força cardíaca. Quanto mais fraco estiver o coração mais baixo é o teor de Q10 nas células do músculo cardíaco. Daí os cientistas considerarem natural estudar o efeito da administração de Q10 a doentes com insuficiência cardíaca.
A New York Heart Association (NYHA) classifica a insuficiência cardíaca em quatro classes, consoante a gravidade dos sintomas, como dificuldade de respirar, dor e palpitações:
- I Actividade física sem limitações. A actividade física habitual não provoca fadiga excessiva, palpitações, dispneia (dificuldade de respirar).
- II Actividade física com ligeiras limitações. Confortável em repouso. A actividade física habitual causa fadiga, palpitações, dispneia (dificuldade de respirar).
- III Actividade física com limitações acentuadas. Confortável em repouso. Menos actividade física que a habitual provoca fadiga, palpitações ou dispneia.
- IV Incapaz de realizar qualquer actividade física sem mal-estar. Sintomas de insuficiência cardíaca em repouso. O mal-estar aumenta com qualquer actividade física.
Q-SYMBIO é um estudo inovador, coordenado pelo já falecido cardiologista dinamarquês, Svend Aage Mortensen, do Heart Center of Copenhagen University Hospital. No estudo participaram 420 doentes com insuficiência cardíaca (classes NYHA III e IV) da Europa, Ásia e Austrália. Todos os doentes receberam terapêutica convencional para sua doença. Além disso, metade dos doentes recebeu suplementação diária com 300 mg de Q10 de qualidade farmacêutica, ao passo que a outra metade recebeu placebo correspondente. Após 16 semanas, os cientistas observaram que os doentes que tomaram Q10 apresentavam níveis mais baixos de NT-proBNP, uma “hormona do stress” produzida pelo músculo cardíaco quando está em esforço. Já no grupo placebo, os níveis de NT-proBNP subiram. Assim, tudo indica que o suplemento de Q10 contribui para a contracção do músculo cardíaco com menos esforço. Após dois anos, verificaram-se menos 43% de mortes por causa cardíaca no grupo de Q10 comparativamente ao grupo placebo. Além disso, verificou-se uma redução de 43% de internamentos entre os participantes tratados com Q10. Baseados nos resultados do estudo, os cientistas afirmaram que o Q10 deve ser encarado como um adjuvante inovador do tratamento da insuficiência cardíaca.
Há dois tipos principais de Q10
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Estudo KiSel-10: Melhor qualidade de vida e metade da mortalidade entre os idosos
O estudo KiSel-10 é igualmente inovador na medida em que foi realizado em pessoas de mais idade saudáveis. Este estudo teve por objectivo investigar se os suplementos de Q10 e selénio retardavam os processos de envelhecimento já instalados e, eventualmente, até contribuíam para maior longevidade. No estudo participaram 443 homens e mulheres com idades compreendidas entre 70 e 88 anos, que foram distribuídos por dois grupos:
- Um grupo recebeu 200 mg de Q10 e 200 microgramas de levedura de selénio por dia. Ambos os suplementos eram de qualidade farmacêutica.
- O outro grupo recebeu placebo correspondente.
Este ensaio controlado, duplamente cego e aleatório foi realizado pelo cardiologista sueco, Professor Urban Alehagen, e a sua equipa de cientistas da Universidade de Linköping e do Karolinska Institutet de Estocolmo. O estudo durou cinco anos. Todos os participantes viviam na pequena cidade de Kisa, na Suécia. O seu nome – KiSel-10 – é o acrónimo de Kisa, selénio e Q10.
Fez todo o sentido administrar aos participantes selénio e Q10 em associação, simplesmente porque a síntese de Q10 no organismo diminui com a idade e porque os escandinavos obtêm muito pouco selénio na alimentação, devido à baixa concentração de selénio no solo. O selénio é essencial para a capacidade do organismo de transformar uma forma de Q10 na outra forma. Além disso, o selénio é um constituinte essencial dos sistemas antioxidantes GPX, fundamentais, e as pessoas de mais idade com baixa concentração de selénio estão em maior risco de doença cardiovascular.
De seis em seis meses, os cientistas avaliaram os diversos marcadores da função cardíaca e dos processos inflamatórios que podem causar stress oxidativo e aterosclerose. Também se avaliou a qualidade de vida dos participantes mediante questionários. O estudo KiSel-10 mostrou que os participantes do grupo que recebeu suplementação apresentavam:
- Melhor qualidade de vida
- Melhor função cardíaca
- Menos internamentos
- Mortalidade cardiovascular 54% inferior
O estudo KiSel-10 está publicado no International Journal of Cardiology. Um estudo de seguimento, realizado após 10 e 12 anos, mostrou que a associação de Q10 com levedura de selénio tem efeito a longo prazo na função cardíaca e na esperança de vida. É expectável que o uso prolongado de suplementos produza um efeito ainda mais evidente.
Sabia que uma pessoa de 65 anos produz metade do Q10 que uma pessoa de 25 anos? |
Q10 e antidislipidémicos
Os antidislipidémicos (também conhecidos por estatinas) bloqueiam a enzima hepática HMG-CoA, que também é utilizado na síntese de Q10 pelo organismo. Por outras palavras, as estatinas inibem a produção de Q10 pelo organismo. E isto afecta os órgãos com grande necessidade de energia, como o coração e outros músculos, e o cérebro. Os efeitos secundários característicos das estatinas são fadiga, dificuldade de concentração, dores musculares e fraqueza física e mental. A longo prazo, podem manifestar-se outros efeitos secundários em consequência de défice de Q10. O composto é um antioxidante essencial que protege contra o stress oxidativo. Daí que seja aconselhável os utilizadores de estatinas tomarem 100 mg diários de Q10 como suplemento.
Diabetes, Q10 e estatinas
A nova revisão integrou cerca de 15 estudos controlados e aleatórios que mostram que a suplementação com Q10 pode ter efeito positivo na diabetes tipo 2 pelos diversos mecanismos já referidos.
O efeito positivo do Q10 nos níveis séricos de glucose e lípidos foi demonstrado numa metanálise recente de Zhang et al. Estudos anteriores mostram que a suplementação diária com 200 mg de Q10 durante três meses reduz o stress oxidativo e diminui o risco de aterosclerose e doença cardiovascular. Além disso, a suplementação com 100 mg de Q10 por um período de três meses reduz significativamente o tipo de inflamação que se observa na neuropatia diabética. Os problemas são causados por lesão do sistema nervoso que regula as funções cardiovasculares, e as complicações estão ligadas a maior risco de doença e morte. Além disso, o uso de estatinas (especialmente sinvastatina) aumenta em 10-40 por cento o risco de diabetes tipo 2. Os utilizadores de estatinas devem tomar suplementos de Q10, uma vez que também diminuem o risco de efeitos secundários, como a diabetes tipo 2.
É paradoxal que as estatinas aumentem o risco de diabetes, que por si só aumenta o risco de aterosclerose e insuficiência cardíaca. |
Doença renal, Q10 e estatinas
Ao que tudo indica, os níveis de Q10 em doentes com doença renal crónica são substancialmente inferiores aos de pessoas saudáveis. Tudo leva a crer que os suplementos de Q10 podem melhorar a função renal pelos mecanismos referidos, e isso pode reduzir a necessidade de diálise.
Num estudo controlado e aleatório, 97 doentes com doença renal crónica receberam um suplemento de Q10 100 mg, três vezes por dia, ou placebo correspondente. No grupo a tomar Q10, os cientistas observaram melhoria significativa dos marcadores da função renal (por exemplo, creatinina sérica) – tanto nos doentes que faziam diálise como nos que não faziam. Daí que o número de doentes do grupo de tratamento, que a princípio necessitavam de diálise, subitamente tenha baixado de 21 para 12, ao passo que nos 24 doentes do grupo placebo manteve-se a necessidade de diálise. Os doentes com doença renal crónica têm maior risco de desenvolver doença cardiovascular. Este risco é 10-20 vezes mais elevado do que em pessoas saudáveis. Cerca de 50 por cento das mortes entre doentes renais crónicos devem-se a doença cardiovascular e não a insuficiência renal. Uma metanálise (Bakhshayeshkaram et al.) demonstrou que a suplementação com Q10 em doentes com doença renal crónica melhora significativamente a saúde das paredes dos vasos sanguíneos, os níveis de colesterol, os marcadores do stress oxidativo e os níveis de creatinina sérica.
Além disso, presume-se que existam defeitos mitocondriais ligados a problemas renais crónicos. Por essa razão, os doentes são cada vez mais vulneráveis à terapêutica com estatinas, visto que, além disso, a diminuição da síntese de Q10 endógena inibe a renovação energética mitocondrial.
Problemas hepáticos, diabetes tipo 2, álcool e intoxicação
Como já foi referido, o Q10 é sintetizado em todo o organismo, e o fígado produz a maior parte. Nos doentes com problemas hepáticos tem-se observado menor síntese de Q10, o que é muito provável que tenha influência negativa na função cardíaca.
Na doença de fígado gordo não-alcoólico (NAFLD), a gordura acumula-se no fígado, devido a perturbação do metabolismo dos açúcares com demasiada frutose (por exemplo, da fruta, do açúcar, do xarope de milho e de um edulcorante chamado HFCS (Xarope de Milho Rico em Frutose). Isto transforma, literalmente, o fígado numa fabrica de gordura.
A NAFLD muitas vezes é parte da síndrome metabólica (ou síndrome X), que é a fase inicial da diabetes tipo 2. A NAFLD está, portanto, associada a maior risco de aterosclerose e insuficiência cardíaca. Os problemas hepáticos relacionados com álcool são provocados pelo consumo excessivo de álcool, o que também afecta o lipometabolismo do fígado. Há diversos níveis de gravidade, desde fígado gordo a fibrose e aterosclerose, ao passo que um pequeno grupo de doentes desenvolve cirrose hepática. O álcool sobrecarrega o fígado ao aumentar os radicais livres e o stress oxidativo. O mesmo acontece com a síndrome metabólica.
Pensa-se que os suplementos de Q10 têm efeito positivo em doentes com doença hepática, devido à sua função de antioxidante potente e à sua capacidade de neutralizar os radicais livres e o stress oxidativo. Numerosos estudos em animais que estiveram expostos a diversas toxinas – incluindo medicamentos e substâncias químicas tóxicas – mostram que a suplementação com Q10 ajuda a reduzir os efeitos tóxicos e o impacto negativo no fígado, porque o Q10 funciona como antioxidante e neutraliza a inflamação.
São poucos os estudos que analisaram os suplementos de Q10 e o seu efeito em humanos com problemas hepáticos. Todavia, dois estudos controlados e aleatórios mostram que a suplementação diária com 100 mg de Q10, durante quatro ou 12 semanas, leva a redução significativa dos marcadores sanguíneos de inflamação e lesão hepática em doentes com doença hepática não-alcoólica.
É importante optar por uma formulação de Q10 de qualidade farmacêutica
Na sua nova revisão, os autores analisaram mais de perto a qualidade de produtos de Q10 e que influência pode ter nos resultados dos estudos científicos. Por exemplo, o efeito de uma formulação de Q10 patenteada revelou-se positivo em vários estudos científicos, mas estes resultados não são aplicáveis a outros produtos de Q10. E isto porque o ser humano tem dificuldade de absorver Q10, a menos que a substância esteja dissolvida em moléculas separadas. Para isso, é necessário utilizar uma combinação de óleos, com pontos de fusão diferentes, e técnica de aquecimento especial.
Não há requisitos especiais relativamente à qualidade e ao teor dos suplementos alimentares. Por outras palavras, normalmente, os consumidores não têm maneira de saber se o produto contém a quantidade de Q10 indicada ou se o teor de Q10 é absorvido com eficácia no sangue e é capaz de chegar às células. Por causa disso, os autores do artigo aconselham as pessoas a optarem por um suplemento de Q10 de qualidade farmacêutica, que seja fabricado em conformidade com a mesma qualidade e normas de segurança dos medicamentos.
O Q10 apresenta-se sob a forma de ubiquinona e de ubiquinol. A maior parte dos estudos é realizada com ubiquinona, que é muito mais estável e que o organismo transforma em ubiquinol conforme necessário. O ubiquinol em suplementos é muito vulnerável porque oxida logo que fica exposto ao oxigénio durante a sua passagem pelo estômago até ao intestino delgado. Quando isso acontece, o ubiquinol volta a ser transformado em ubiquinona, o que nos traz ao princípio. Ao optar por suplementos de Q10, deve-se escolher sempre uma formulação com absorvibilidade comprovada e que garanta que o composto activo chega às células e respectivas mitocôndrias.
Referências bibliográficas:
David Mantle and Lain Hargreaves. Coenzyme Q10 and Degenerative Disorders Affecting Longevity: An Overview. Antioxidants (Basel) Published online 2019 Feb
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6406788/
Mortensen, Svend A. Overview on coenzyme Q10 as adjunctive therapy in chronic heart failure. Rationale, design and endpoints on “Q-Symbio –A multinational trial. Biofactors 18 (2003) IOS Press
Alehagen U, et al. Cardiovascular mortality and N-Terminal-proBNP reduced after combined selenium and coenzyme Q10 supplementation. Int J Cardiol. 2012
Hannou SA et al. Fructose metabolism and metabolic disease. J. Clin Invest 2018
Pernille Lund. Q10 – fra helsekost til epokegørende medicin. Ny Videnskab 2014