Uma alimentação pobre do ponto de vista nutricional aumenta o risco de cancro
- mas determinados nutrientes conferem protecção
As pessoas que fazem uma alimentação pobre em nutrientes têm risco acrescido de desenvolver cancro, segundo um estudo francês publicado em PLoS Medicine. Daí os cientistas recomendarem a rotulagem dos alimentos por forma a ajudar os consumidores a fazerem escolhas mais saudáveis. Contudo, mesmo seguindo as orientações alimentares oficiais, pode ser difícil obter quantidade suficiente de vitamina D e selénio, dois nutrientes com vários mecanismos anticancerígenos.
Um em cada três dinamarqueses tem cancro, e a tendência não foi interrompida, pelo contrário. Dado o papel importante da alimentação, as autoridades de saúde britânicas instituíram um índice alimentar especial (FSAm-NPS) que classifica os alimentos em função da falta de nutrientes. Quanto maior a pontuação, menor o seu valor nutritivo. Mélanie Deschasaux e a sua equipa de investigadores, do Instituto Francês de Investigação Médica e da Saúde, em colaboração com a OMS, usaram este sistema no seu novo estudo e consideraram-no uma ferramenta possível para ajudar as pessoas a fazerem escolhas alimentares adequadas, reduzindo assim o risco de cancro.
Uma alimentação pobre em nutrientes aumenta o risco de grande maioria dos cancros
Mélanie Deschasaux e os colegas analisaram dados relativos à ingestão de alimentos e ocorrência de cancro em 471.495 adultos no período de 1992-2014. Os dados foram recolhidos de um grande estudo da população europeia (EPIC). Segundo o estudo, foram detectados 49.794 casos de cancro (principalmente cancro da mama, da próstata e do cólon) durante este período. Os cientistas classificaram a alimentação dos participantes segundo o índice alimentar FSAm-NPS para ver com que tipos de alimentos o risco de cancro era mais elevado.
Constataram haver relação estatisticamente significativa entre uma pontuação elevada (indicativa de alimentos com falta de nutrientes) e aumento do risco de cancro da mama na mulher menopáusica. Além disso, estes alimentos aumentavam o risco de cancro do fígado, do cólon, do recto, do estômago e do pulmão.
Contudo, o estudo foi limitado pelo facto de a ingestão de alimentos ser relatada pelo próprio, logo não muito precisa. Todavia, Mélanie Deschasaux considera o estudo suficientemente sólido para defender uma política de saúde melhor, segundo a qual o rótulo dos produtos alimentares mostre o teor de nutrientes (ou a falta deles).
Os símbolos são úteis – mas não para prevenção do cancro
A Dinamarca, a Noruega e a Suécia adoptaram o chamado símbolo de “Buraco de fechadura”, para ajudar os consumidores a fazerem escolhas alimentares mais saudáveis. O conceito do “Buraco de fechadura”, a que os industriais agro-alimentares podem aderir voluntariamente, pressupõe que os alimentos cumpram determinados requisitos em termos de ingredientes saudáveis. Só os alimentos que contribuem para uma alimentação saudável e equilibrada reúnem os requisitos para serem rotulados com este símbolo. Por outras palavras, não estão abrangidos doces, refrigerantes, batatas fritas e alimentos similares pouco saudáveis.
Infelizmente, o cancro também atinge as pessoas que seguem as orientações alimentares oficiais e se limitam ao consumo de alimentos com esse símbolo. Ao que tudo indica, é difícil obter quantidade suficiente de vitamina D e selénio na alimentação, e estes dois nutrientes têm mecanismos anticancerígenos.
A falta de vitamina D aumenta o risco de cancro e morte prematura em 30-40 por cento
O sol de Verão é a fonte principal de vitamina D; todavia, a carência de vitamina D tornou-se um problema cada vez mais frequente nas últimas décadas devido ao facto de as pessoas passarem demasiado tempo em recintos fechados, fazerem uso excessivo de protectores solares e tomarem antidislipidémicos (que bloqueiam a síntese de vitamina D). Além disso, os idosos, diabéticos e pessoas de pele escura não sintetizam a vitamina D com a mesma eficácia que as outras pessoas.
Baixos níveis séricos de vitamina D aumentam o risco de várias formas de cancro e de morte prematura em 30-40 por cento, segundo um grande estudo dinamarquês que está publicado na British Medical Journal.
Os níveis séricos de vitamina D são determinantes para a prevenção
Por outro lado, níveis séricos de vitamina D elevados podem reduzir o risco de várias formas de cancro, o que ficou demonstrado num grande estudo em adultos japoneses. Nas últimas décadas, muitos estudos mostraram que a vitamina D tem importância na prevenção do cancro da mama, do cólon e de várias outras formas de cancro. Tudo indica que é necessário aporte deste nutriente superior ao recomendado para uma acção preventiva do cancro.
Sabia que as mulheres sujeitas a exposição solar intensa e que sintetizam mais vitamina D são 50% menos susceptíveis de desenvolver cancro da mama do que as que se expõem menos ao sol?
Precisamos de mais vitamina D do que o recomendado
A dose diária recomendada de vitamina D é demasiado baixa, segundo muitos especialistas que defendem que a dose diária deveria ser de 30-100 microgramas. É fácil sintetizar esta quantidade de vitamina D pela exposição da pele à luz solar directa num dia luminoso de Verão. A quantidade de vitamina D que obtemos na alimentação é muito limitada, pelo que será boa ideia tomar um suplemento durante o Inverno ou em situações em que não seja possível obter quantidade suficiente do nutriente por exposição solar. A vitamina D é lipossolúvel, e a melhor forma de a tomar é numa fórmula à base de azeite, em cápsulas.
A vitamina D inibe o cancro através dos seguintes mecanismos:
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É difícil obter selénio suficiente, mesmo com uma alimentação saudável
O selénio reforça cerca de 30 proteínas seleniodependentes (selenoproteínas) que não só são fundamentais para a renovação energética, mas também servem de antioxidantes ao proteger as células contra stress oxidativo e deterioração do ADN.
O selénio está presente sobretudo no peixe, marisco, vísceras, ovos, lacticínios e castanha-do-pará. Contudo, as colheitas na Europa, geralmente, são pobres em selénio devido à grande falta deste nutriente no solo agrícola. A investigação demonstrou ainda que é impossível obter selénio suficiente, mesmo ingerindo peixe e marisco cinco dias por semana.
A levedura de selénio diminui a mortalidade por cancro em 50 por cento
Em 1996, o Professor Larry C. Clark, investigador de oncologia americano, publicou os resultados do seu estudo pioneiro NPC (National Prevention of Cancer) que mostram que a suplementação com levedura de selénio orgânico diminui o risco de várias formas de cancro. No grupo de participantes no estudo que receberam levedura de selénio, verificaram-se:
- menos 58 % de casos de cancro colo-rectal
- menos 63% de casos de cancro da próstata
- menos 46% de casos de cancro do pulmão
- redução de 50% da mortalidade global por cancro
Desde a publicação do estudo (em Journal of the American Medical Association), outros estudos vieram demonstrar que a falta de selénio alimentar aumenta o risco de muitas formas de cancro e que a suplementação com levedura de selénio confere protecção.
O selénio também diminui o risco de cancro da mamaGrandes estudos mostraram diferenças entre os níveis séricos de selénio de mulheres saudáveis e mulheres com cancro da mama muito antes de a doença ser diagnosticada. Este é um dado extremamente importante, visto que o cancro muitas vezes leva anos a desenvolver-se. |
Os suplementos de selenometionina não resultam – e os estudos são enganadores
Os investigadores responsáveis pelo chamado ensaio SELECT testaram suplementos de selénio e de vitamina E, mas não constataram efeito de protecção contra o cancro. Isto deveu-se, em parte, ao facto de terem usado selenometionina que, ao contrário da levedura de selénio, não tem propriedades anticancerígenas comprovadas. Acresce que a vitamina E usada no estudo era de fonte sintética. É, por isso, enganador usar o ensaio SELECT como referência científica e como meio de pressão para dissuadir as pessoas de integrarem o selénio na sua estratégia de prevenção do cancro. Deve-se antes informar os consumidores de que a selenometionina não parece ter grande efeito, e recomendar a levedura de selénio como uma alternativa melhor.
A levedura de selénio protege contra o cancro da próstata
Um estudo realizado por cientistas da Universidade Técnica da Dinamarca mostra que a suplementação diária com 200 microgramas de levedura de selénio diminui o risco de cancro da próstata. Esta dosagem é muito superior à dose recomendada de selénio (55 microgramas na Dinamarca).
A suplementação com selénio é necessária para prevenção do cancro
Estima-se que 20% por cento da população dinamarquesa tenha um aporte diário de selénio inferior à dose diária recomendada (DDR). Contudo, segundo a investigação, mesmo uma DDR de 55 microgramas não é suficiente para saturar a selenoproteína P, um marcador importante da concentração de selénio no organismo. Para saturar devidamente esta selenoproteína, dever-se-ia consumir 100-125 microgramas de selénio todos os dias, ou o dobro, segundo as recomendações actuais.
Ao adquirir formulações de selénio, deve-se optar por uma levedura de selénio que combine diversas variedades de selénio orgânico. Só assim se obtém a mesma variedade de compostos de selénio que se obtém com uma alimentação equilibrada, com diversas fontes de selénio.
Para prevenção eficaz do cancro, é preciso aporte suficiente de selénio para saturar as diversas selenoproteínas, que têm as seguintes funções:
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Referências bibliográficas
Mélanie Deschasaux et al. Nutritional quality of foods as represented by the FSAm-NPS nutrient profiling system underlying the Nutri-Score label and cancer risk in Europe: Results from the EPIC prospective cohort study. PLOS Medicine 2018
Sanjeev Budhathoki et al. Plasma 25-hydroxyvitamin D concentration and subsequent risk of total and site specific cancers in Japanese population: large case-cohort study within Japan Public Health Center-based Prospective Study cohort. BMJ, 2018
Science News. Higher Vitamin D levels may be linked to lower risk of cancer. ScienceDaily March 2018
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https://www.cancer.dk/hjaelp-viden/fakta-om-kraeft/kraeft-i-tal/nogletal/