A falta de uma proteína específica de selénio no sangue aumenta o risco de insuficiência cardíaca
Uma concentração sérica de selenoproteína P excessivamente baixa aumenta o risco de insuficiência cardíaca, segundo um estudo populacional sueco, em que os autores analisaram mais de perto a função da selenoproteína P como marcador da concentração de selénio no organismo e como precursor de outras selenoproteínas. Para saturar devidamente a selenoproteína P, são precisos mais de 100 microgramas diários; mas como o solo europeu é pobre em selénio, é difícil obter quantidade suficiente na alimentação.
Está por demais comprovado que a carência de selénio tem influência na doença cardiovascular, no mau prognóstico na insuficiência cardíaca e na morte prematura. Segundo um estudo populacional recente, níveis séricos de selénio mais elevados também estão associados a menor risco de insuficiência cardíaca e morte prematura, mas apenas em não-fumadores. O novo estudo sueco procurou verificar se a selenoproteína P (SELENOP) está associada ao risco de insuficiência cardíaca.
Os investigadores fizeram o doseamento sérico da selenoproteína P em amostras de sangue de 4.803 participantes do “Malmö Preventive Project”. Setenta por cento dos participantes eram homens, a idade média era de 69,6 anos, e 19,7 por cento dos participantes eram fumadores. Foram excluídos do estudo todos os que tinham antecedentes de insuficiência cardíaca.
Os investigadores fizeram um ELISA (enzyme-linked immunoassay), um método de medição que mostra a concentração de proteínas específicas numa amostra de sangue. Em seguida, compararam a saúde cardíaca dos participantes com os níveis séricos mais altos e mais baixos de selenoproteína P.
O período de seguimento foi de 14,7 anos, e os cientistas observaram que há uma relação inversa entre níveis séricos de selenoproteína P e risco de insuficiência cardíaca. Concluíram que níveis baixos de selenoproteína P no sangue aumentam o risco de insuficiência cardíaca na população em geral, incluindo fumadores. Os cientistas recorreram a um estudo populacional sueco anterior, em que se constatou que baixos níveis séricos de selenoproteína P estão associados a má qualidade de vida, aumento do risco de morte prematura e pior prognóstico em doentes com insuficiência cardíaca aguda.
A carência de selénio provoca doença cardiovascular
Na província de Keshan, do nordeste da China, o solo agrícola é muito pobre em selénio. Foi nesta região onde primeiro se identificou, na década de 1930, uma relação entre carência de selénio e doença cardíaca letal, a que foi dado o nome de doença de Keshan. Esta doença é provocada por um vírus, de resto inofensivo, chamado Coxsackie B, que o sistema imunitário não consegue combater se a pessoa tiver falta de selénio. Na década de 1960, a população chinesa desta região começou a erradicar a doença com ajuda de suplementos de selénio.
Mais tarde, estudos e metanálises verificaram haver relação entre carência de selénio e doença cardiovascular, incluindo doença cardíaca coronária (também denominada doença cardíaca isquémica). A carência de selénio também pode aumentar o risco de cancro e outras doenças graves.
Como é que o selénio confere protecção contra doença cardiovascular?
O organismo precisa de selénio para produzir entre 25-30 selenoproteínas, que ajudam a regular a renovação energética, as defesas imunitárias, a função tiroideia e diversos mecanismos antioxidantes. O fígado obtém diversos tipos de selénio da alimentação, e todos são parte de um metabolismo complexo do selénio. Uma das selenoproteínas, a selenoproteína P, é a principal transportadora de selénio por todo o organismo. Depois de captada pelas células, a selenoproteína P é transformada nas muitas outras selenoproteínas, consoante as necessidades do organismo.
O músculo cardíaco, sujeito a grande esforço, utiliza selénio na produção de energia. O selénio é igualmente importante para diversos sistemas antioxidantes, como o GPX, que protege o coração e o sistema circulatório contra o stress oxidativo, em que os radicais livres desencadeiam reacções em cadeia que podem atacar células e tecidos. O colesterol, que é, de resto, um composto essencial, torna-se nocivo quando atacado pelos radicais livres que o oxidam e levam a que o colesterol oxidado se acumule nas paredes dos vasos sanguíneos. O colesterol em si não é o problema, os problemas e a aterosclerose surgem quando o colesterol é deteriorado pela oxidação. O risco de stress oxidativo aumenta com factores como idade, stress, excesso de peso, diabetes tipo 2, tabagismo, intoxicação, e a utilização de vários tipos de medicamentos. O aumento do stress oxidativo requer mais protecção antioxidante.
Níveis sanguíneos ideais e a utilização de suplementos
O nível sanguíneo ideal de selénio é de cerca de 120 µg/L. Na Europa, o nível médio é de apenas cerca de 70-85 µg/L, exceptuando a Finlândia. Em meados da década de 1980, o governo finlandês impôs o enriquecimento do solo com selénio. Em consequência desta medida, o aporte médio de selénio na Finlândia aumentou para 100-110 µg por dia, o que é suficiente para optimizar os níveis de selénio no sangue. Contudo, continua a haver muitos europeus que obtêm muito pouco selénio, o que aumenta o risco de insuficiência cardíaca, doença cardiovascular, cancro e muitas outras doenças. Será, por isso, boa ideia considerar a toma de um suplemento de selénio de qualidade superior, por forma a assegurar níveis sanguíneos ideais do nutriente.
Referências bibliográficas:
Amra Jujic et al. Selenoprotein P deficiency is associated with higher risk of incident heart failure. Free Radical Biology and Medicine. 2023
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