O selénio contraria o cancro - e é provável que interrompa a tendência
Apesar de os tratamentos do cancro terem melhorado drasticamente, a verdade é que a ciência ainda não conseguiu interromper a tendência. Pelo contrário. Há cada vez mais pessoas com cancro, e é por isso que deve ser dada mais atenção ao oligoelemento selénio, que possui vários mecanismos contra o cancro. Contudo, para tanto, é preciso que obtenhamos selénio em quantidade suficiente e sob uma forma que o organismo consiga metabolizar com eficácia.
Segundo as estatísticas da base de dados nórdica NORDCAN, o número de cancros irá aumentar em mais de 50% nos próximos anos. O cancro é actualmente a causa principal de morte nas pessoas com menos de 65 anos. Muitos daqueles que seguem as recomendações oficiais para um estilo de vida saudável, mantendo o peso ideal, limitando a ingestão de álcool, praticando exercício com regularidade e optando por não fumar, também são afectados pelo cancro. Embora sejam muitos os factores que provocam cancro, aparentemente, o selénio em muito pouca quantidade é um factor importante, se bem que subestimado.
Baixa ingestão de selénio na Europa
Geralmente, o solo agrícola na Europa contém muito pouco selénio. E este problema tem sido agravado pelos métodos agrícolas intensivos que ainda esgotam mais o solo. A baixa ingestão de peixe e vísceras também contribui para a baixa taxa de selénio. Estima-se que 20% da população escandinava não obtenha a dose diária recomendada (DDR) de selénio, que é de cerca de 50-70 microgramas por dia. Em muitos outros países, como Estados Unidos da América, Canadá e Japão, o aporte de selénio natural de fontes alimentares é consideravelmente superior, chegando aos 200 microgramas, a quantidade usada em muitos estudos científicos do selénio.
Sabia que durante décadas os agricultores têm dado suplementos de selénio aos animais, para prevenir doenças por carência graves, simplesmente porque o gado saudável é equiparável a uma economia saudável? |
É importante optar por suplementos com levedura de selénio orgânico.
Já em 1996, o investigador americano Larry Clark documentava no seu estudo NPC (Prevenção Nacional do Cancro) que a suplementação com 200 microgramas de levedura de selénio orgânico, com uma variedade de compostos de selénio orgânico, pode reduzir o risco de vários cancros comuns em 46-63%, reduzindo a mortalidade por cancro em 50%. Na prática, isto significa que, no geral, milhões de pessoas poderiam sobreviver ou evitar esta doença terrível.
Os resultados do estudo NPC foram de tal modo inovadores que o estudo foi concluído antes do previsto. Considerou-se que não seria ético prosseguir o estudo com um grupo placebo que não tinha beneficiado da levedura de selénio.
Os suplementos de selenometionina não resultam, e os estudos levam a conclusões erradas
Infelizmente, muitas pessoas reportam-se ao estudo SELECT subsequente, em que foram administrados suplementos de selénio em associação com vitamina E. Contudo, este estudo não revelou efeito protector no cancro. Uma das razões por que o estudo não revelou resultados semelhantes aos observados no estudo NPC foi o facto de os cientistas terem utilizado uma forma de selénio chamada selenometionina. Contrariamente à levedura de selénio orgânico, a selenometionina não demonstrou bons resultados no cancro. Além disso, foi usada uma forma sintética de vitamina E. É, por isso, enganador reportar-se ao estudo SELECT na tentativa de desaconselhar a utilização do selénio na prevenção do cancro. Seria mais correcto informar que não é de esperar que os suplementos de selenometionina tenham efeito e, como alternativa, recomendar levedura de selénio.
Baixas taxas de selénio antecedem a doença
Muitas vezes, decorrem 10-15 anos entre a primeira mutação celular e o aparecimento de um tumor. Simultaneamente, a carência de selénio deixa as células mais vulneráveis, visto que sofrem mutações com mais facilidade e têm tendência para migrar para outros tecidos.
Vários estudos em grande escala revelaram diferença entre os níveis de selénio de doentes oncológicos e os níveis de pessoas saudáveis, anos antes de a doença se manifestar. Como o cancro muitas vezes leva anos a desenvolver-se, o selénio é essencial na prevenção a longo prazo.
O selénio induz a "morte celular programada" e previne a disseminação dos tumoresAs diversas proteínas que contêm selénio neutralizam duas características específicas das células cancerosas: uma, é a de que inibem a extraordinária capacidade das células cancerosas de formarem novos vasos sanguíneos quando se disseminam. Outra, é as células cancerosas não terem capacidade de realizar a autodestruição programada (apoptose). Este é um processo que as células normais realizam como medida de protecção quando o seu funcionamento começa a ser deficiente. |
Previne o cancro da mama e aumenta a probabilidade de sobreviver à doença
Os cientistas também constataram haver diferenças entre os níveis de selénio de doentes com cancro da mama e pessoas saudáveis muito antes de a doença ser diagnosticada. Como o cancro da mama é um dos cancros mais comuns, o selénio merece claramente mais atenção, tanto em termos de utilização na prevenção como de adopção de campanhas. As mulheres com cancro da mama têm também maior probabilidade de sobrevivência se consumirem mais selénio antes da doença, comparativamente a mulheres que não obtenham selénio suficiente na alimentação. Isto verificou-se num estudo sueco de 3.146 doentes de cancro da mama.
O selénio protege contra o cancro da próstata
Segundo um estudo da Universidade Técnica da Dinamarca, o consumo de 200 microgramas por dia faz baixar o risco de cancro da próstata. Esta dose é consideravelmente mais elevada do que a dose diária recomendada (DDR)
O selénio regula o sistema imunitário, que fica desregulado em muitos tipos de cancro
Os investigadores da Universidade de Copenhaga publicaram um estudo em que demonstravam como o composto do selénio metilselenol era capaz de prevenir a disseminação das células cancerosas em consequência de stress celular e desregulação imunitária. No melanoma maligno, no cancro da próstata e em certos tipos de leucemia, as células produzem determinados compostos, denominados NKG2D, em quantidade excessiva que hiperestimulam, confundem e esgotam o sistema imunitário, acabando por levá-lo a colapsar. Segundo os investigadores dinamarqueses, o metilselenol inibe a produção incontrolável de NKG2D e limita a presença destes compostos nocivos na corrente sanguínea.
De que modo o selénio protege contra substâncias cancerosas
A maior parte dos carcinogéneos tem uma coisa em comum: ou funcionam como radicais livres ou instigam o organismo a produzir radicais livres. Os radicais livres são compostos de oxigénio nocivos e muito agressivos com potencial para lesar o ADN das células. As proteínas que contém selénio, chamadas GPX, funcionam como antioxidantes potentes que protegem as células e o seu ADN contra agressão dos radicais livres. Outros compostos do selénio neutralizam as toxinas ambientais cancerígenas como o mercúrio. E o composto do selénio, selenoproteínas P, é capaz de reparar a lesão do ADN e impedir que as células se tornem cancerosas.
Seis mecanismos anticancerígenos do selénio
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Referências:
Clark LC et al: Effects of Selenium Supplementation for Cancer Prevention in Patients with Carcinoma of the Skin. Journal of the American Medical Association. 1996Klein EA et al. Vitamin E and the risk of prostate cancer: The Selenium and Vitamin E Cancer Prevention Trial (SELECT). Jama 2011.
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Hagemann-Jensen Michael et al. The Selenium Metabolite Methylselenol Regulates the Expression of Ligands That Trigger Immune Activation through the Lymfocyte Receptor NKG2D. The Journal of Biological Chemistry. 2014.
Heath, J.C. et al: Dietary selenium protects against selected signs of aging and methylmercury exposure. Neurotoxicology, 2010.
Hertz Niels. Selen et livsvigtigt spormineral. Ny Videnskab 2002.
Dansk jordbrugsforskning. Selenanvendelse i dansk landbrug. 2006.