Baixos níveis de selénio no solo estão ligados a reacções potencialmente fatais à COVID-19
Uma equipa de cientistas internacional, da Universidade de Surrey, Inglaterra, descobriu haver ligação entre baixos níveis de selénio no solo e o risco de a infecção COVID-19 se tornar fatal. A Professora Margaret Rayman, que coordenou o estudo, passou décadas a estudar a falta de selénio à escala mundial, que se sabe comprometer a capacidade do sistema imunitário de enfrentar as infecções virais e novas epidemias. Os terrenos de cultivo de vastas regiões do mundo, Europa e China incluídas, são pobres em selénio, pelo que se impõe dar mais atenção a este nutriente essencial.
O selénio está presente no peixe, ovos e cereais, entre outros alimentos, mas existem diversos factores que influenciam a quantidade de selénio que cada pessoa obtém, como seja hábitos alimentares, geografia e níveis do nutriente no solo. Dependendo da região onde se vive, a diferença percentual no aporte de selénio pode ser de várias centenas. O selénio é essencial para a saúde e para a capacidade do sistema imunitário combater as infecções virais. Os estudos mostram que a infecção por VIH é mais susceptível de evoluir para SIDA em doentes com défice de selénio, sendo que estes doentes têm ainda um risco acrescido de 20% de morrerem da doença se tiverem falta de selénio. Na China, o solo tem níveis de selénio variáveis, consoante a região em causa. O solo da província de Keshan é extremamente pobre em selénio, e foi precisamente aqui que, na década de 1960, os cientistas identificaram pela primeira vez uma doença cardíaca potencialmente fatal, que designaram por doença de Keshan. A doença era causada por um vírus, normalmente inofensivo, o vírus Coxsackie, que o sistema imunitário não consegue combater quando tem falta de selénio.
A Professora Margaret Rayman, cientista responsável pelo novo estudo, procurou investigar se havia ligação entre a taxa e gravidade da COVID-19 e as regiões da China pobres em selénio, na zona que vai do nordeste ao sudeste. A equipa de cientistas comparou os dados relativos ao solo e as taxas de COVID-19 em várias províncias e cidades chinesas e constatou que as hipóteses de recuperação dos doentes com COVID-19 eram muito superiores nas regiões da China com o solo mais rico em selénio. Na cidade de Enshi, na província de Hubei, onde o aporte de selénio é o mais elevado da China, a taxa média de cura era quase o triplo da de outras cidades da mesma província. Já nos habitantes da província de Heilongjiang, onde o aporte de selénio é o mais baixo do mundo, a taxa média de mortalidade é quase cinco vezes superior à de todas as outras províncias, excepto Hubei.
Segundo a equipa de cientistas, ficou evidente que a capacidade de recuperar da COVID-19 estava ligada significativamente à concentração de selénio no organismo, que os cientistas avaliaram pela análise de amostras de cabelo de um grande número de participantes de 17 cidades fora de Hubei.
O novo estudo está publicado na American Journal of Clinical Nutrition.
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O selénio reforça e regula as defesas imunitárias de diversas formas
O selénio sustenta cerca de 25-30 enzimas selenodependentes, denominadas selenoproteínas, que são essenciais para renovação energética, defesas imunitárias e muitas outras funções orgânicas essenciais. A relação entre a concentração de selénio no organismo e a capacidade deste de combater a COVID-19 é corroborada por estudos anteriores, que também mostram porque é que o selénio é tão importante para uma resposta imunitária eficaz. O selénio é necessário para:
- a imunidade inata que combate a maior parte dos microrganismos, mesmo sem nos darmos conta
- a imunidade adaptativa (ou adquirida) que é capaz de se especializar, formar anticorpos e desenvolver imunidade
- a comunicação do sistema imunitário e divisão celular
- a prevenção de mutações dos vírus que obrigam o sistema imunitário a restabelecer imunidade
- a formação de antioxidantes potentes que protegem as células saudáveis quando as defesas imunitárias entram em acção (prevenção de ataques auto-imunes)
Quando infecções como a COVID-19 ou a gripe se tornam potencialmente fatais, o problema não é o vírus em si, mas sim o facto de o sistema imunitário hiper-reagir com tempestade de citocinas, hiperinflamação e stress oxidativo, que podem atacar e provocar lesão dos tecidos saudáveis. É primordial ter quantidade suficiente de nutrientes protectores, como o selénio, que ajudam as defesas imunitárias a dirigir um ataque rápido e eficaz ao inimigo, ao mesmo tempo que procuram proteger os tecidos do organismo.
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As recomendações oficiais de selénio não são ideais
A selenoproteína P é uma proteína essencial que contém selénio, também usada como marcador da concentração de selénio no organismo. Os estudos mostram que o aporte de selénio recomendado (50-70 microgramas) não é suficiente para a saturação completa da selenoproteína P. Para a saturação total, são precisos 100 microgramas diários de selénio.
Em caso de infecção, a necessidade de selénio pode ser muito superior.
Devem-se privilegiar os suplementos com levedura de selénio que contenham diversas variedades de selénio, visto que se aproximam mais da variedade natural de diversas fontes de selénio que se obtêm com uma alimentação variada.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a dose diária máxima tolerada de selénio é de 400 microgramas.
Importante: Não esquecer a vitamina D, vitamina C e zinco no combate à COVID-19 e outras infecções viraisNão é por acaso que as infecções virais, habitualmente, surjam durante o Inverno, altura em que é mais natural as pessoas terem falta de vitamina D. A vitamina C e o zinco são igualmente necessários para reforçar o sistema imunitário e neutralizar o stress oxidativo. |
Referências bibliográficas:
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